sábado, 21 de fevereiro de 2009

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Toneladas de boa vontade a caminho da Guiné







O contentor de 25 toneladas partiu há vários dias e já está em Bissau. A comitiva fez-se ontem à estrada para uma viagem de sete dias cheia de dificuldades






"Guiné, aì vamos nós"
Vinte e duas pessoas, cinco mil quilómetros para percorrer, sete jipes. Na bagagem, doses ilimitadas de boa vontade e de esperança em ajudar a transformar a Guiné-Bissau num país melhor. Pelo sexto ano consecutivo, um grupo de cidadãos de Coimbra e do Porto ruma àquele país africano, onde chegará no dia 26 para distribuir as 25 toneladas de material recolhido nos últimos meses.

Ontem, pouco antes das 9h00, o Largo da Portagem "vivia" uma adrenalina especial. Afinal, dali partiu a expedição, organizada pela Associação Humanitária Memórias e Gentes. E pode dizer-se que o vermelho é a cor da solidariedade para estes 20 homens e duas mulheres que se fizeram à estrada ontem de manhã. Todos vestidos com o impermeável propositadamente criado para esta missão, contaram com o apoio de dezenas de pessoas, entre as quais, o governador civil, Henrique Fernandes, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Carlos Encarnação, o vereador do Desporto, Luís Providência, o presidente da Casa da Guiné-Bissau de Coimbra, Julião Soares Sousa, ou o autarca de S. Martinho do Bispo, Antonino Antunes.

Maria Idalina Travessa não escondia o nervoso "miudinho". É uma das duas senhoras que vai enfrentar as agruras do deserto. E vai pela primeira vez, a acompanhar o marido, um dos ex-combatentes da guerra colonial que integra esta acção. Maria Idalina esteve até à última hora para decidir se embarcava ou não nesta aventura, mas os filhos lá a conseguiram convencer. «Vai ver se tenho lá algum irmão», disseram, a brincar.

Sem nunca dizer que sim ao marido, lá foi tomar as vacinas para se precaver contra qualquer doença indesejada. Ou seja, «quem cala consente», adiantou. Bem disposta, deseja «ajudar alguma coisa» e que todos regressem bem, o que não aconteceu com o marido de Maria Idalina, há dois anos. «Veio de lá com malária», recorda.

Caso tenha oportunidade de apadrinhar alguma criança, esta moradora da Póvoa do Varzim até já leva recomendação de uma das netas. Se for um menino, pode dar-lhe o nome de Renato e se for menina, Rita.

Mais do que uma aventura

Fernando Ferreira é um dos rostos desta missão humanitária. Não é ex-combatente, mas apaixonou-se pelo país desde que o pisou pela primeira vez. «Vamos levar uma migalha. É uma gota de água num mar tão seco», adiantou momentos antes da partida. «Há crianças que recebem o primeiro caderno, já a acabar o ensino básico», exemplificou o empresário de Taveiro.

Numa altura em que o contentor de 25 toneladas já se encontra em Bissau, querem ser os próprios a desalfandegá-lo. «Não queremos que ninguém mexa», frisou, recordando que lá dentro está material didáctico, berçários, medicamentos, soro fisiológico e roupas para crianças.

«Pela primeira vez, vamos tentar construir um parque infantil em Bissau», adiantou José Moreira, presidente da Memórias e Gentes, acrescentando que, através da autarquia, foram conseguidos dois escorregas. Há também um baloiço duplo e duas tabelas de basquete. É certo que o parque não ficará concluído, mas os elementos da missão não duvidam que, nesta primeira fase, serão mais do que suficientes para levar um sorriso ao rosto de cada criança que, pela primeira vez, viverá a emoção de experimentar um escorrega.

Em Varela, no norte do país, será montada uma «creche completa» e, em Capiane, no sul, onde surgiram os primeiros sinais de cólera, haverá distribuição de medicamentos, que também chegarão a Quebu, Fulacunda, Buba e Catió.

«É muito mais do que uma aventura», contou José Moreira, ex-combatente na Guiné-Bissau entre 1966 e 1968.

Cada ida à Guiné representa uma nova emoção. A primeira vez, 37 anos depois da guerra, aconteceu há seis anos. «Quando regressei, verifiquei as carências que eram muitas e trouxe na bagagem vontade de voltar», recorda. Assim aconteceu. Até que, há dois anos, foi criada a Associação Humanitária Memórias e Gentes.

Viagem custa 2.500 euros a cada participante.

As previsões apontam para uma viagem de sete dias. A noite de ontem foi passada na zona de Tânger, enquanto hoje a comitiva deverá pernoitar em Agadir. O terceiro dia será passado em Leon no Sahara Ocidental, o quarto na Mauritânia e os quinto e sexto dias no Senegal. O sétimo já será em solo guineense, acredita Fernando Ferreira, sem dúvida de que todos terão de enfrentar uma viagem «dura».
«Não nos expomos a perigos, mas há dificuldades», frisou. São os policiamentos, os problemas nas alfândegas, os alojamentos. «Não é pêra doce», reconhece, mas nada que desmotive o grupo que, há seis anos consecutivos, dedica alguns dias a ajudar um povo distante em quilómetros, mas próximo, por afectividade.
Não é de estranhar, portanto, que entre os jipes mais potentes circule uma carrinha Toyota Hiace, super carregada para que nada falte a estes homens e mulheres durante a aventura a milhares de quilómetros de casa. E num traçado que, em alguns pontos coincide com o do antigo Rally Dakar, não admira que ela, por vezes, tenha de ser rebocada. «Mas, chega lá», acredita Fernando Ferreira.
Com apoios logísticos de várias instituições, a comitiva tem, no entanto, de suportar todos os custos da viagem. Ou seja, indica Fernando Ferreira, esta acção humanitária custa, aproximadamente, 2.500 euros a cada um dos elementos.
O regresso não será feito em comitiva. Prevê-se a saída de dois carros juntos e que se viaje de dia e de noite, pelo que a duração da viagem será mais reduzida, frisou.

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