domingo, 24 de janeiro de 2010

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Contentor com 26 toneladas de donativos já está a caminho

«Acabou o recreio. Temos muito trabalho pela frente», avisa Fernando Ferreira. Não é para menos. O relógio marca mais de 12h00 e, junto ao Estádio Sérgio Conceição, em Taveiro, ainda são muitas as caixas espalhadas pelo chão a precisarem de ser acomodadas no contentor que terá de chegar a Setúbal para partir, de barco, com destino à Guiné-Bissau.
Depois de três meses de trabalho minucioso a separar e catalogar donativos, vindos de instituições e cidadãos anónimos de vários pontos do país, os membros da Associação Memórias e Gentes cumprem mais um capítulo da aventura que é fazer chegar àquele país africano cerca de 1.200 caixas e 26 toneladas de roupa, material escolar, alimentos, mobílias, livros, medicamentos e outros bens de saúde, tão necessários a um povo que está entre os mais pobres do Mundo.
«Esta é uma ajuda significativa para Guiné-Bissau», adianta José Moreira, presidente da associação, durante a conferência de Imprensa que serviu para dar pormenores sobre esta que é a sexta expedição humanitária da Memórias e Gentes a Guiné-Bissau. O encontro com os jornalistas foi, portanto, uma interrupção num trabalho árduo que é fazer com que se deposite num contentor de 40 pés o resultado da «solidariedade em português», como afirmou Luís Providência, vereador da Câmara Municipal de Coimbra, que apoia a expedição.
E é grande essa solidariedade, como tem sido grande a vontade de instituições e particulares a contribuírem para mais um mês de «festa» em Guiné-Bissau, que é o ambiente que se vive durante o tempo em que permanece naquele país esta expedição conimbricense, que este ano será composta por 34 pessoas, de vários pontos do país.
Estes só seguem, por terra, no próximo dia 25 de Fevereiro, com partida da Praça 8 de Maio, em Coimbra, para sete dias e seis noites de viagem por Marrocos, Mauritânia e Senegal, que deve terminar na Guiné-Bissau no dia 3 ou 4 de Março. No total serão sete carros e nove motos, do Mototurismo do Centro, que percorrerão cerca de 5.200 quilómetros de deserto e perigos por terras africanas.
Edifício para 200 bebés
Uma vez na Guiné, as atenções deverão virar-se para o povo de Varela, uma localidade piscatória, localizada na fronteira com o Senegal, e para a “menina dos olhos” da associação conimbricense que é a creche e jardim-de-infância que a instituição está a instalar num antigo edifício colonial daquela localidade e que será inaugurada durante esta expedição com o nome de Memórias e Gentes. «Esta obra terá o nosso logótipo, o nosso cunho, um bocadinho da nossa lusofonia», afirma, emocionado, Fernando Ferreira, membro da instituição e um dos expedicionários.
O edifício terá capacidade para acolher 200 bebés e crianças que, até agora, passavam os dias, debaixo de um calor tórrido, às costas das mães, enquanto estas se dedicavam a tratar do peixe, pescado pelos homens da terra. O edifício é considerado uma «excelente mais-valia» para uma terra onde, como acontece por todo o país, é muito elevada a mortalidade infantil provocada por problemas respiratórios, falta de cuidados médicos e paludismo.
No contentor seguem muitos “mimos” para este novo equipamento e para os seus utentes, como camas e berços, doados pela Fundação Bissaya Barreto e os Móveis Lucas, soros e outros materiais desinfectantes, livros, cereais e outras papas para crianças, entre outro material angariado.
Satisfeitos com o que conseguiram juntar para levar ao povo guineense, o grupo destaca alguns donativos, como sete paletes de antibióticos de largo espectro, oferecidos pela Labesfal, que seguirão também para Cabo Verde, Moçambique e o Haiti, em colaboração com a Saúde em Português ou ainda uma carrinha oferecida pela Alves Bandeira que ajudará na distribuição dos donativos pela população e que depois ficará em Varela ao serviço da creche e jardim-de-infância.
Esta é uma aventura que se espera mais pacífica do que a do ano passado. Em 2009, a expedição foi apanhada no meio de um grande tumulto militar em consequência do assassinato de Nino Vieira e viveram-se momentos complicados. Isto já para não falar nos perigos da viagem e nos custos que esta aventura, apesar de muito apoiada, tem para a associação e para cada participante.
Cada expedicionário tem de pagar, em média, do seu bolso, entre 2.000 a 2.500 euros. Juntam-se os custos de estiva, para que o contentor seja embarcado, que são de 900 euros e para desalfandegar a carga, na Guiné-Bissau, que, dependendo da negociação, pode chegar aos 1.200 euros. De qualquer forma, como confessa José Moreira, só para ver o sorriso que cada criança troca por um chupa-chupa ou por uma caneta, «vale tudo a pena».

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