quinta-feira, 1 de abril de 2010

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Narcotráfico na base da acção
Guiné-Bissau: Golpe de militar com aroma de cocaína

Bissau – Tudo apontava para que a Guiné-Bissau estivesse no bom caminho. Eleições democráticas e um reforço do combate ao narcotráfico dominaram a política de estabilização, até esta quinta-feira com um golpe militar com aroma de cocaína.
No fim da manhã desta quinta-feira vários militares começaram a concentrar-se de «forma anormal» junto à sede da ONU em Bissau onde se refugiara desde alguns meses Bubo Na Tchuto, ex Chefe de Estado da Armada, acusado de narcotráfico, suspeito de envolvimento no assassinato de Nino Veira e presumível executor de uma tentativa de Golpe de Estado no país imaginada por Ernesto Carvalho, um dos mais eminentes «Barões da Droga» guineenses e um aliado do ex Presidente Kumba Iala, que terá se refugiado em Cabo Verde logo após o fiasco da operação.
Antonio Indjai, ex vice Chefe de Estado Maior das Forças Armadas aparece inesperadamente na madrugada de hoje na capital guineense, quando todos pensavam que estava em tratamento em Cuba.
Uma semana antes Indjai assinara Bissau, perante uma comissão composta pelo Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, CEMGFA, Zamora Induta, Procurador-Geral da República e o Presidente, um documento onde reconhecia estar envolvido numa operação de narcotráfico que ocorrera no aeródromo de Cufar, sul da Guiné, desmantelada «in extremis» pelos militares de Zamora Induta.
Na mesma ocasião ficou estabelecido que António Indjai seria automaticamente exonerado do cargo de número dois das forças armadas e partiria para Cuba, oficialmente, em «tratamentos médicos».
A partida de Indjai rematava meses de rivalidades com Zamora Induta que declara que iria «fazer guerra ao narcotráfico» mesmo que tivesse temporariamente de fazer o trabalho da polícia, prometendo que iria «limpar a imagem dos militares guineenses» como principais envolvidos no narcotráfico no país.
Outro antecedente, que passou quase desapercebido, foi a revogação assinada pelo Presidente Malam Bacai Sanha do reconhecimento da Republica Árabe Sarauí Democrática, RASD, favorecendo assim Marrocos que terá contribuído significativamente no financiamento da sua campanha presidencial. Uma posição que contrariou a decisão do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, revelando um choque entre o Chefe do Executivo e o sucessor de Nino Veira.
No entanto, a decisão de Malam Bacai Sanha favoreceu colateralmente Kumba Ialá que se estabeleceu no reino alauita e de onde continuou a coordenar muitas movimentações, e destabilizações, politicas na Guiné-Bissau.
Vários sinais apontavam também para uma forte mobilização na sombra dos militares de etnia balanta, maioritária nas forças armadas guineenses, e próximos do ex presidente Ialá.
Zamora Induta tinha previsto esta quinta-feira de deslocar-se à capital senegalesa, Dakar, mas acabou por ser detido pelos militares fiéis de Antonio Indjai que imediatamente «libertou» Bubo Na Tchuto do seu «exílio» na sede da ONU em Bissau. O chefe do executivo, Carlos Gomes Júnior, é também detido. O presidente optou por permanecer em silêncio, quebrado por um lacónico comunicado, mesmo quando Indjai declara que estava disposto a disparar contra a população que se manifestava pela libertação de Carlos Gomes Júnior ou executar o primeiro-ministro que entretanto é transferido para sua residência sob a «protecção» da Policia de Intervenção Rápida.
Antonio Indjai autoproclama-se número um das forças armadas e destitui Zamora Induta que entretanto, juntamente com Samba Djaló, e outros elementos da segurança guineense, foi transferido para o Centro de Instrução Militar de Cumére, onde permanece detido. Estas detenções podem vir a ser justificadas pela presumível implicação dos prisioneiros nas mortes de Nino Veira e Tagmé Na Waie.
É o início de uma nova vaga de instabilidade na Guiné-Bissau e um preocupante prenúncio do regresso em força dos narcotraficantes ao país.
Rodrigo Nunes

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