sexta-feira, 12 de junho de 2009

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Ex-combatentes: Associações dizem que apoios são insuficientes
“Não se lembram de quem deu a vida”

Vinte associações militares de combatentes das Forças Armadas reuniram-se ontem em Lisboa, naquele que foi o Segundo Congresso de Combatentes, 36 anos após o primeiro, realizado em 1973.
"Há uma série de problemas que têm de ser resolvidos e é para isso que existem as associações. Há apoios, é certo, mas não são suficientes nem capazes de criar soluções. Não se lembram de quem deu a vida pelo País", disse ao CM Chito Rodrigues, presidente da comissão executiva do congresso e também da Liga dos Combatentes.
A jornada tinha como principais temas em discussão a segurança, cidadania, saúde e a segurança social. A trasladação dos corpos de África, a integração do tempo de serviço militar na reforma, a construção de lares e de cuidados ao domicílio foram alguns dos temas mais debatidos.
"Nós assumimos como missão dar a vida pela Pátria, e agora não nos deixam viver com dignidade", defendeu António Ferraz, da Federação das Associações de Combatentes, lembrando que cerca de 10% dos sem-abrigo portugueses são ex-combatentes. "Isto mostra a situação arrepiante com que nos debatemos."
A falta de dinheiro é desculpa para tudo", disse por seu turno Lima Coelho, da Associação Nacional de Sargentos.
Chito Rodrigues anunciou ontem a trasladação feita há 15 dias do corpo do último combatente morto na Guiné, uma despesa totalmente paga pela Liga.
MILICIANOS QUEIXAM-SE DE DISCRIMINAÇÃO
A Associação dos Combatentes do Ultramar Portugueses (ACUP) denunciou ontem o que considera ser uma diferença de tratamento entre os combatentes de quadro permanente e os milicianos, nomeadamente no acesso a instituições de caridade. "Estamos todos unidos pelo mesmo objectivo que é o direito que temos em viver e morrer com dignidade e com os apoios que achamos merecidos, mas há classes mais favorecidas. Por exemplo, no Centro de Apoio Social de Runa há um privilégio para os combatentes de quadro e os milicianos ficam de fora. Quero lutar contra isso", afirma José Nunes, presidente da ACUP.
PORMENORES
VIDA EM SOBRESSALTO
Durante o congresso foram abordados vários exemplos de vidas de ex-combatentes, todos os traumas pós-guerra e os problemas de saúde que daí decorreram.
PLATEIA DE CEM PESSOAS
Durante o dia de ontem estiveram no congresso cerca de cem pessoas a discutir os problemas da vida dos ex-combatentes. A organização esperava entre duzentos a quinhentos militares.
"ESTATUTO DA CONDIÇÃO MILITAR É FUNDAMENTAL" (Carlos Matos Gomes, Coronel na reserva)
Correio da Manhã – O que é que espera que possa sair do congresso de ex-combatentes?
Matos Gomes – Parece-me uma mistura de associações um pouco difícil de digerir e não faço ideia do que pode sair dali. Penso que é uma verdadeira salganhada de interesses. Acho que o objectivo principal é tratarem das questões de saúde e apoio social.
– Qual a medida mais urgente que deveria ser tomada?
– Se as associações quisessem ser mais transparentes, acho que fundamental seria elaborar um estatuto da condição militar, que olhasse para todos os combatentes e permitisse regular quais os direitos e deveres, em vez de estarem sempre a tentar pescar à linha subsídios e baixar impostos.
– As reivindicações dos ex-combatentes deveriam estar então mais viradas para o futuro ?
– Penso que deveriam investir mais no apoio às futuras gerações, tratando de definir relações transparentes com o Governo, elaborarem um estatuto e não estarem sempre a tentar sacar medidas avulsas.
– Não se revê então na forma de luta que tem sido seguida?
– Parece-me uma tentativa muito incoerente, e em águas bastante turvas, de fazer alguma coisa. Não me revejo nela.

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