quinta-feira, 16 de julho de 2009

DEPOIMENTOS

A morte dos deputados

Pinto Leite, Leonardo Coimbra, José Vicente Abreu e Pinto Bull, deputados à Assembleia Nacional, perderam a vida num desastre de helicóptero na Guiné, a 26 de Julho de 1970, dois sias da morte de Salazar
Os quatro deputados integravam uma representação da Assembleia nacional de visita oficial à Guiné e a Cabo Verde. O grupo, formado por oito parlamentares, chegou a Bissau a 20 de Julho. A acção de Spínola na Guiné estava ao rubro. Tinha mudado tudo o que encontrou dois anos antes, quando substituiu o general Arnaldo Schultz. Como governador, alterara a política - e como comandante-chefe, mudou a forma de fazer a guerra. A par da demonstração de força, Spínola pôs em marcha um ousado projecto político de conquista das populações - plano traduzido no slogan “Uma Guiné Melhor” e que consistia em ouvir os guineenses e dar-lhes condições de vida. Nasceram os Congressos do Povo, verdadeira manifestação de democracia directa numa colónia de um Regime sem liberdade.
Os “ultras” do estado Novo desconfiavam do cabo de guerra. Mas os liberais viam-no como o general De Gaulle português, capaz de encontrar uma solução política para a guerra e, em último caso, protagonizar uma mudança de Regime. A viagem dos deputados à Guiné não se tratou de uma mera visita protocolar: uns e outros queriam avaliar com os seus olhos a verdadeira extensão das mudanças promovidas por Spinola. O deputado Pinto Leite pertencia a chamada da ala liberal na Assembleia Nacional.
Durante uma semana, os deputados percorreram a Guiné e Cabo Verde, quase sempre na companhia de Spínola. A 26 de Julho, fizeram a última visita, ao Noroeste da Guiné. Após uma passagem por Teixeira Pinto, embarcaram em três helicópteros Alouette III, de regresso a Bissau. No outro dia, tomariam um avião para Lisboa.
A viagem de Teixeira Pinto para Bissau era curta, não chegava a 25 minutos. A meio do voo, sensivelmente sobre o rio Mansoa os três helicópteros foram atingidos por um tornado. Os pilotos, envoltos por espessas nuvens e bátegas de água, perderam a visibilidade, enquanto os aparelhos eram sacudidos pela força da ventania.
Os: Alouette não tinham sistemas de navegação: os pilotos voavam " a olho" - e sem conseguirem ver um palmo de terra to em baixo nunca conseguiriam orientar-se. A solução foi voarem em círculo, ligados à vista, à espera de uma aberta. Mas o helicóptero pilotado pelo alferes Francisco Lopes Manso perdeu o contacto com os outros dois - que conseguiram aterrar nas margens do Mansoa. Só no outro dia, os destroços do aparelho foram encontrados no fundo do rio, Seguiam a bordo, para além do piloto, os deputados Pinto Leite, Leonardo Augusto Coimbra, James Pinto Bull e José Vicente de Abreu, e o capitão de Cavalaria, Carvalho de Andrade. Ninguém sobreviveu.


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