OPERAÇÃO MAR VERDE
Matar Sekou Touré
1. Missão atribuída. a) eliminação física do presidente da República da Guiné, Ahmed Sekou Touré; b) destruição da casa de campo do presidente da República (Villa Silly); c) assalto ao Campo de Milícia Popular de Conakry; d) garantir a protecção aos grupos de combate operantes na zona, após o cumprimento dos objectivos das alíneas anteriores.
2. Meios à disposição. 18 homens (incluindo o signatário comandante do grupo de assalto), 2 cabos FZE, 11 marinheiros FZE e14 grumetes, 14 armas Kalashnikov, 11 metralhadoras ligeiras Dehterev, um lança-granadas foguete e um lança-rockets, 5400 munições; 10 munições de lança-granadas foguete, 16 rockets, 40 granadas de mão defensivas, 20 granadas de mão ofensivas; um aparelho de rádio PRC 116, um aparelho THS, três botes de borracha de desembarque Zebro III.
3. Forma como cumpriu a missão. Largada do NRP Dragão em 22 NOV e desembarque 500 m a norte do 1.° objectivo; progressão junto à praia no sentido norte-sul em direcção ao 1.° objectivo; divisão do grupo de assalto em três secções (uma secção de protecção e duas secções de ataque), cada qual a uma das duas casas que constituíam a residência; junto da 1.ª casa o cabo FZE Costa Deitado abateu 1 sentinela armada de PPSH que fazia guarda, juntamente com a outra de igual modo armada de PPSH que foi abatida pelo conjunto dos componentes da sua secção; as sentinelas não tiveram tempo para usar das suas armas (as armas foram recolhidas); o signatário, acompanhado do cabo FZE Costa Deitado e do cabo FZE 916/64 Telmo e dos 1.ºs grumetes 041/69-G Aurélio Zinhaga e o 46/69-G Augusto Có, penetrou sucessivamente em todas as divisões e dependências da residência não tendo encontrado qualquer ocupante (não havia indícios de utilização da residência nessa noite, a casa estava arrumada e as camas ainda feitas).
O signatário ordenou a destruição total da residência (2 edificações); utilizaram-se o lança-granadas foguete e granadas de mão que provocaram imediatamente incêndio nas instalações e, nomeadamente, numa sala destinada a reuniões de carácter político (informação do guia); destruição de uma viatura automóvel estacionada junto à residência (a viatura era pertença pessoal do presidente da República) e da casa do pessoal da guarda à residência; progressão em direcção ao Campo de Milícia Popular (distante 100 m do 1.° objectivo); transposição de um muro de 2 m de altura para evitar a detecção do grupo de combate; o 1.° grumete FZE 046/69-G Augusto Có fez dois disparos de lança-granadas foguete contra as casernas do pessoal, causando vários mortos e feridos e um curto-circuito que provocou incêndio de moderadas proporções nas instalações; assalto das casernas; arremesso para o seu interior de várias granadas defensivas; entrada no campo (após os rebentamentos) de três viaturas automóveis e de um motociclo, transportando oito elementos da milícia, tendo sido abatidos os ocupantes e destruídas as viaturas por incêndio declarado nos respectivos depósitos de combustível que foram atingidos; destruição, dentro do campo, de uma viatura pesada GMC com duas granadas defensivas; uma das sentinelas do portão principal do campo fez fogo sobre os nossos homens, tendo sido dominada e abatida e capturada a sua arma (Thompson?); reagrupamento do pessoal e progressão ao encontro do grupo comandado pelo 1.° tenente Cunha e Silva; percorridos 50 m foram detectados três elementos IN armados, que foram abatidos, um pelo signatário e os restantes, respectivamente, pelo cabo FZE Costa Deitado e 1.º grumete 041/69-G Aurélio Azinhaga e recolhidas as respectivas armas; uma viatura de marca Wolkswagen preparava-se para sair do campo, tendo sido destruída e abatido o seu tripulante (apreendidos os seus documentos chegou-se à conclusão de que se tratava de um cidadão da República Federal da Alemanha); recebida ordem para o reembarque, que se efectuou pelas 04.30.
4. Resultados obtidos. 10 mortos IN armados; cerca de 30 mortos nas casernas do Campo de Milícia Popular; 9 mortos ocupantes de viaturas em trânsito no e para o Campo de Milícia Popular; 6 viaturas automóveis e um motociclo destruídos; 20 armas apreendidas.
5. Dificuldades encontradas. Progressão dificultada pelo acidentado do terreno desde o ponto de desembarque até ao 1.° objectivo (terreno rochoso junto à praia, propositadamente escolhido para aproveitar os pontos mais vulneráveis do IN; fogo das sentinelas em ambos os objectivos. (1
1. Missão atribuída. A missão foi atribuída pelo comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, sob minha proposta: 1) Realizar um golpe de Estado na República da Guiné a fim de permitir a subida ao poder dum governo favorável aos altos interesses da nação; 2) Paralelamente executar um golpe de mão sobre as instalações do PAIGC em Conakry, a fim de lhe causar o maior número de baixas possível e libertar os 26 militares portugueses detidos na prisão do partido.
2. Meios à disposição. Conforme os relatórios dos oficiais participantes. Os meios navais foram constituídos em TG com o número 27.2, embarcando neles os grupos de assalto.
3. Forma como cumpriu a missão. Os relatórios parciais elucidam pormenorizadamente a forma como foi cumprida a missão. Resta-me apenas dar uma panorâmica de conjunto. A navegação decorreu muito bem, tendo-se manobrado para evitar os navios detectados quer pelo P2V5 quer pelos radares de bordo. Contudo, foi impossível evitar no dia 21, pelas 13.30 que o navio arrastão Banko - já nosso conhecido de missões anteriores - passasse perto da Montante, devido à sua velocidade superior. Como a formatura era bastante dispersa e o pessoal ia todo abrigado, não me pareceu ser de considerar termos sido detectados. Aliás, o rumo do arrastão afastava-o da zona de acção.
Entretanto, ordenei que todos os desembarques estivessem efectuados até às 22.01.30 para dar então o sinal de ataque. Como tive notícia que alguns botes que transportavam o DFE 21 se tinham enrascado numa rede de pesca, aguardei que estivessem safos, o que se deu logo a seguir.
Às 22.01.40 dei ordem para atacar ao grupo Victor, pois na ocasião era o objectivo que lhe estava destinado - as vedetas rápidas - o que mais me preocupava, porque para o sucesso do plano era fundamental estar seguro, desde o início, do domínio do mar. A primeira explosão deu-se às 01.55 e cerca de 10 minutos depois apagaram-se as luzes de Conakry I, sinal certo de que a central eléctrica tinha sido atingida como planeado. Logo que o grupo Victor foi recolhido - 02.35 - mandei seguir a Orion para junto da Bombarda, atravessando o canal que separa as ilhas de Los de Conakry e que estava cheio de navios mercantes. Fundeei junto à Bombarda pelas 03.25. Entretanto fui tendo conhecimento do que se passava com o grupo Sierra - encarregado da destruição dos MiG, outro ponto fundamental para o sucesso, pois era imprescindível ter o domínio do ar. Para uma melhor elucidação, transcrevo as mensagens trocadas entre o comandante do grupo Sierra - capitão Morais - e o navio apoio Hidra. «22.01.40 - Chegámos à praia. 22.02.00 - O filho da puta do tenente fugiu com 20 dos meus homens: traiu-me miseravelmente. 22.02.15 - Estou junto objectivo. Aeroporto rodeado arame farpado. 22.02.25 - Percorri a pista e não vi MiG. 22.02.28 - Estou a ouvir o barulho das autometralhadoras a passarem. 22.02.30 - Percorri os hangares e não se encontram lá MiG nenhuns. 22.03.00 - Informo que estou rodeado por dois blindados e muitas tropas.»
Ao ter conhecimento do sucedido mandei o grupo Sierra regressar ao local de desembarque, comunicação que recebeu às 03.15. Um dos factores do sucesso, o domínio do ar, estava fortemente comprometido. Ainda ordenei ao resto do grupo Sierra para tentar destruir a pista, tendo sido informado que não tinham o morteiro nem as minas de fragmentação. Tive conhecimento que o pessoal restante do grupo Sierra reembarcou na Hidra pelas 04.15. Como a maré vazava e as condições hidrográficas do local onde se encontrava a LFG eram precárias, mandei-a para uma posição uma milha a sul do farol de Boulbinet. Quando mandei seguir a Orion para junto da Bombarda já tinha conhecimento - por conseguinte cerca das 02.30 - que alguns grupos desembarcados da LDG afirmavam não ter encontrado os objectivos, o que me alarmou e surpreendeu, dado que a estação de rádio era junto à beira-mar e que o desembarque não fora efectuado a mais de 100 metros do objectivo, e cerca das 01.20. A esta hora também tinha desembarcado a maior parte do grupo encarregado de neutralizar a Gendarmaria. Apesar da situação relativa aos grupos desembarcados perto de Boulbinet ser bastante confusa, dei ordem à Bombarda para tomar posição para desembarcar o grupo Papa, encarregado de cortar o istmo.
Entretanto o major Leal de Almeida, pelo transmissor, incitou várias vezes os grupos em terra a continuarem, mormente o grupo Hotel. Pelas 03. 15 fui informado que não houvera contacto rádio com os grupos Oscar e Mike. Às 04.05 fui informado que o grupo Mike tinha cumprido a missão, com dois mortos. Pelas 04. 15 tive conhecimento que a maior parte dos objectivos do DFE 21 tinham sido atingidos, não tendo sido contudo encontrado o presidente Sekou Touré. Como a situação dos grupos de Boulbinet continuava muito confusa resolvi ir num bote de borracha à Bombarda, o que fiz pelas 04-30
0 grupo Hotel há mais de duas horas que pedia constantemente para reembarcar. O grupo Echo também já estava a pedir para reembarcar. A situação apresentava-se da seguinte maneira: objectivos PAIGC atingidos em boa parte, incluindo a libertação dos 26 prisioneiros; domínio do mar, assegurado; domínio em terra ainda em disputa, mas com forte possibilidade de sucesso, pois ainda dispunha duma razoável reserva de manobra e sabia que dali a cerca de uma hora e meia já tinha o DFE 21 também pronto a reforçar qualquer acção; presidente Sekou Touré, não encontrado; domínio do ar, não assegurado. Este factor pesou fundamentalmente no meu julgamento, pois dali em diante a minha única preocupação foi deixar o menor número de provas documentais da nossa actividade. Por conseguinte, às 04.40 ordenei à Bombarda que não desembarcasse o grupo Papa e fizesse embarcar os grupos de Boulbinet. Para este efeito acedi ao pedido do major Leal de Almeida para ir a terra coordenar o reembarque. Regressei à Orion às 05.00. Quando tive conhecimento de que os reembarques estavam praticamente prontos, ordenei a formação de TU 27.2.1 constituída pela Hidra e Bombarda, com ordem de retirar o mais depressa possível da zona de acção. Os dois botes da Bombarda que ainda estavam a recolher pessoal em terra foram metidos dentro da Orion que pelas 05.40 navegou a contornar as ilhas de Los - evitando passar entre estas e Conakry por razões de segurança -, fundeando pelas 07.30 a milha e meia a N do molhe de La Prudence. No caminho, logo que tive conhecimento que o DFE estava reembarcado - cerca das 06.00 - ordenei à Cassiopeia e Dragão que colaborassem com a Montante no reembarque do pessoal ainda em terra a fim de, repito, deixar o menor número de vestígios. Como o dia clareava rapidamente, ordenei às duas LFG citadas para fornecerem à LDG apoio de fogo A/A, pois havia sempre presente a ameaça dos MiG. Pelas 07.40 abriram fogo de terra sobre os navios, verificando-se algumas «gerbes» muito dispersas e sem importância e que aliás terminaram depois de ter autorizado à Dragão e Montante o disparo de quatro tiros de peça de 40 mm sobre os pontos prováveis do tiro IN, junto à margem. Pelas 09.15 consegui finalmente reembarcar todo o pessoal que compareceu no local. Desde as 08.10 que tinha determinado a formatura em losango, a mais adequada contra ataques aéreos, ao rumo evasivo inicial de 240, o que finalmente se conseguiu pelas 10.30. Manteve-se o mais alto grau de prontidão antiaérea até cerca do pôr do Sol. Em 23.09.25 avistou-se o ilhéu do Poilão, tendo pelas 15.30 a força naval dado fundo ao ferro em frente de Soja.
Resultados obtidos. Sob o ponto de vista estritamente militar, a operação decorreu de forma muito satisfatória, atendendo ainda a que foi a primeira deste género realizada pelas nossas Forças Armadas. Grande parte dos objectivos foram conseguidos e numa acção normal todos seriam atingidos - à excepção dos MiG - pois ainda tinha margem de manobra e possibilidades dinâmicas para o fazer. Atendendo contudo à estreita margem de liberdade de acção que os princípios da estratégia indirecta, informadores do plano, consentiam, não se pôde ir mais além. Fazê-lo, seria correr um risco de consequências desastrosas. Por conseguinte, dentro da correcta cadeia de decisões - política, estratégica, operacional, táctica e técnica - a decisão política tinha de sobrelevar as outras: o nosso comprometimento tinha de se reduzir ao mínimo. Bem ou mal, o único juiz no campo da acção era eu. A decisão de retirar - e sabe Deus quanto me custou fazê-lo - foi minha. Dela assumo completa responsabilidade.
Dificuldades encontradas. A maior dificuldade encontrada foi devida a uma estranha e inexplicável atitude do major Leal de Almeida, de que só tive conhecimento na véspera do dia da partida e de que o general comandante-chefe nesse mesmo dia tomou conhecimento. Assim o armamento, distribuição de uniformes e contactos com os grupos do FNLG estavam muito atrasados, o que me obrigou a um esforço enorme na sexta-feira, dia 20, das 00.00 às 20.30. A companhia de comandos africana, talvez por não sentir no seu supervisor a rijeza de ânimo necessária, não estava mentalizada para a operação, obrigando-me na quinta-feira, dada a possibilidade de uma insubordinação, visto ter decidido trazer o major Leal de Almeida a Bissau, a falar duramente ao capitão João Bacar e seus oficiais. O capitão Bacar assegurou que cumpriria a missão que lhe fosse atribuída. De toda a forma considerei de alto valor psicológico, dado o estado de desmoralização da CCA, a visita do general comandante-chefe na manhã de sexta. As outras dificuldades não pesaram na resolução tomada. O longo período que mediou entre a gestação da operação e a respectiva execução permitiu-me examinar todas as decisões a tomar no mínimo pormenor. Assim, sabia de antemão quais seriam as minhas reacções perante as situações novas. A este nível de planeamento só não previ, confesso, a deserção do tenente Januário e alguns dos homens que o acompanhavam.
2. Meios à disposição. 18 homens (incluindo o signatário comandante do grupo de assalto), 2 cabos FZE, 11 marinheiros FZE e14 grumetes, 14 armas Kalashnikov, 11 metralhadoras ligeiras Dehterev, um lança-granadas foguete e um lança-rockets, 5400 munições; 10 munições de lança-granadas foguete, 16 rockets, 40 granadas de mão defensivas, 20 granadas de mão ofensivas; um aparelho de rádio PRC 116, um aparelho THS, três botes de borracha de desembarque Zebro III.
3. Forma como cumpriu a missão. Largada do NRP Dragão em 22 NOV e desembarque 500 m a norte do 1.° objectivo; progressão junto à praia no sentido norte-sul em direcção ao 1.° objectivo; divisão do grupo de assalto em três secções (uma secção de protecção e duas secções de ataque), cada qual a uma das duas casas que constituíam a residência; junto da 1.ª casa o cabo FZE Costa Deitado abateu 1 sentinela armada de PPSH que fazia guarda, juntamente com a outra de igual modo armada de PPSH que foi abatida pelo conjunto dos componentes da sua secção; as sentinelas não tiveram tempo para usar das suas armas (as armas foram recolhidas); o signatário, acompanhado do cabo FZE Costa Deitado e do cabo FZE 916/64 Telmo e dos 1.ºs grumetes 041/69-G Aurélio Zinhaga e o 46/69-G Augusto Có, penetrou sucessivamente em todas as divisões e dependências da residência não tendo encontrado qualquer ocupante (não havia indícios de utilização da residência nessa noite, a casa estava arrumada e as camas ainda feitas).
O signatário ordenou a destruição total da residência (2 edificações); utilizaram-se o lança-granadas foguete e granadas de mão que provocaram imediatamente incêndio nas instalações e, nomeadamente, numa sala destinada a reuniões de carácter político (informação do guia); destruição de uma viatura automóvel estacionada junto à residência (a viatura era pertença pessoal do presidente da República) e da casa do pessoal da guarda à residência; progressão em direcção ao Campo de Milícia Popular (distante 100 m do 1.° objectivo); transposição de um muro de 2 m de altura para evitar a detecção do grupo de combate; o 1.° grumete FZE 046/69-G Augusto Có fez dois disparos de lança-granadas foguete contra as casernas do pessoal, causando vários mortos e feridos e um curto-circuito que provocou incêndio de moderadas proporções nas instalações; assalto das casernas; arremesso para o seu interior de várias granadas defensivas; entrada no campo (após os rebentamentos) de três viaturas automóveis e de um motociclo, transportando oito elementos da milícia, tendo sido abatidos os ocupantes e destruídas as viaturas por incêndio declarado nos respectivos depósitos de combustível que foram atingidos; destruição, dentro do campo, de uma viatura pesada GMC com duas granadas defensivas; uma das sentinelas do portão principal do campo fez fogo sobre os nossos homens, tendo sido dominada e abatida e capturada a sua arma (Thompson?); reagrupamento do pessoal e progressão ao encontro do grupo comandado pelo 1.° tenente Cunha e Silva; percorridos 50 m foram detectados três elementos IN armados, que foram abatidos, um pelo signatário e os restantes, respectivamente, pelo cabo FZE Costa Deitado e 1.º grumete 041/69-G Aurélio Azinhaga e recolhidas as respectivas armas; uma viatura de marca Wolkswagen preparava-se para sair do campo, tendo sido destruída e abatido o seu tripulante (apreendidos os seus documentos chegou-se à conclusão de que se tratava de um cidadão da República Federal da Alemanha); recebida ordem para o reembarque, que se efectuou pelas 04.30.
4. Resultados obtidos. 10 mortos IN armados; cerca de 30 mortos nas casernas do Campo de Milícia Popular; 9 mortos ocupantes de viaturas em trânsito no e para o Campo de Milícia Popular; 6 viaturas automóveis e um motociclo destruídos; 20 armas apreendidas.
5. Dificuldades encontradas. Progressão dificultada pelo acidentado do terreno desde o ponto de desembarque até ao 1.° objectivo (terreno rochoso junto à praia, propositadamente escolhido para aproveitar os pontos mais vulneráveis do IN; fogo das sentinelas em ambos os objectivos. (1
1. Missão atribuída. A missão foi atribuída pelo comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, sob minha proposta: 1) Realizar um golpe de Estado na República da Guiné a fim de permitir a subida ao poder dum governo favorável aos altos interesses da nação; 2) Paralelamente executar um golpe de mão sobre as instalações do PAIGC em Conakry, a fim de lhe causar o maior número de baixas possível e libertar os 26 militares portugueses detidos na prisão do partido.
2. Meios à disposição. Conforme os relatórios dos oficiais participantes. Os meios navais foram constituídos em TG com o número 27.2, embarcando neles os grupos de assalto.
3. Forma como cumpriu a missão. Os relatórios parciais elucidam pormenorizadamente a forma como foi cumprida a missão. Resta-me apenas dar uma panorâmica de conjunto. A navegação decorreu muito bem, tendo-se manobrado para evitar os navios detectados quer pelo P2V5 quer pelos radares de bordo. Contudo, foi impossível evitar no dia 21, pelas 13.30 que o navio arrastão Banko - já nosso conhecido de missões anteriores - passasse perto da Montante, devido à sua velocidade superior. Como a formatura era bastante dispersa e o pessoal ia todo abrigado, não me pareceu ser de considerar termos sido detectados. Aliás, o rumo do arrastão afastava-o da zona de acção.
Entretanto, ordenei que todos os desembarques estivessem efectuados até às 22.01.30 para dar então o sinal de ataque. Como tive notícia que alguns botes que transportavam o DFE 21 se tinham enrascado numa rede de pesca, aguardei que estivessem safos, o que se deu logo a seguir.
Às 22.01.40 dei ordem para atacar ao grupo Victor, pois na ocasião era o objectivo que lhe estava destinado - as vedetas rápidas - o que mais me preocupava, porque para o sucesso do plano era fundamental estar seguro, desde o início, do domínio do mar. A primeira explosão deu-se às 01.55 e cerca de 10 minutos depois apagaram-se as luzes de Conakry I, sinal certo de que a central eléctrica tinha sido atingida como planeado. Logo que o grupo Victor foi recolhido - 02.35 - mandei seguir a Orion para junto da Bombarda, atravessando o canal que separa as ilhas de Los de Conakry e que estava cheio de navios mercantes. Fundeei junto à Bombarda pelas 03.25. Entretanto fui tendo conhecimento do que se passava com o grupo Sierra - encarregado da destruição dos MiG, outro ponto fundamental para o sucesso, pois era imprescindível ter o domínio do ar. Para uma melhor elucidação, transcrevo as mensagens trocadas entre o comandante do grupo Sierra - capitão Morais - e o navio apoio Hidra. «22.01.40 - Chegámos à praia. 22.02.00 - O filho da puta do tenente fugiu com 20 dos meus homens: traiu-me miseravelmente. 22.02.15 - Estou junto objectivo. Aeroporto rodeado arame farpado. 22.02.25 - Percorri a pista e não vi MiG. 22.02.28 - Estou a ouvir o barulho das autometralhadoras a passarem. 22.02.30 - Percorri os hangares e não se encontram lá MiG nenhuns. 22.03.00 - Informo que estou rodeado por dois blindados e muitas tropas.»
Ao ter conhecimento do sucedido mandei o grupo Sierra regressar ao local de desembarque, comunicação que recebeu às 03.15. Um dos factores do sucesso, o domínio do ar, estava fortemente comprometido. Ainda ordenei ao resto do grupo Sierra para tentar destruir a pista, tendo sido informado que não tinham o morteiro nem as minas de fragmentação. Tive conhecimento que o pessoal restante do grupo Sierra reembarcou na Hidra pelas 04.15. Como a maré vazava e as condições hidrográficas do local onde se encontrava a LFG eram precárias, mandei-a para uma posição uma milha a sul do farol de Boulbinet. Quando mandei seguir a Orion para junto da Bombarda já tinha conhecimento - por conseguinte cerca das 02.30 - que alguns grupos desembarcados da LDG afirmavam não ter encontrado os objectivos, o que me alarmou e surpreendeu, dado que a estação de rádio era junto à beira-mar e que o desembarque não fora efectuado a mais de 100 metros do objectivo, e cerca das 01.20. A esta hora também tinha desembarcado a maior parte do grupo encarregado de neutralizar a Gendarmaria. Apesar da situação relativa aos grupos desembarcados perto de Boulbinet ser bastante confusa, dei ordem à Bombarda para tomar posição para desembarcar o grupo Papa, encarregado de cortar o istmo.
Entretanto o major Leal de Almeida, pelo transmissor, incitou várias vezes os grupos em terra a continuarem, mormente o grupo Hotel. Pelas 03. 15 fui informado que não houvera contacto rádio com os grupos Oscar e Mike. Às 04.05 fui informado que o grupo Mike tinha cumprido a missão, com dois mortos. Pelas 04. 15 tive conhecimento que a maior parte dos objectivos do DFE 21 tinham sido atingidos, não tendo sido contudo encontrado o presidente Sekou Touré. Como a situação dos grupos de Boulbinet continuava muito confusa resolvi ir num bote de borracha à Bombarda, o que fiz pelas 04-30
0 grupo Hotel há mais de duas horas que pedia constantemente para reembarcar. O grupo Echo também já estava a pedir para reembarcar. A situação apresentava-se da seguinte maneira: objectivos PAIGC atingidos em boa parte, incluindo a libertação dos 26 prisioneiros; domínio do mar, assegurado; domínio em terra ainda em disputa, mas com forte possibilidade de sucesso, pois ainda dispunha duma razoável reserva de manobra e sabia que dali a cerca de uma hora e meia já tinha o DFE 21 também pronto a reforçar qualquer acção; presidente Sekou Touré, não encontrado; domínio do ar, não assegurado. Este factor pesou fundamentalmente no meu julgamento, pois dali em diante a minha única preocupação foi deixar o menor número de provas documentais da nossa actividade. Por conseguinte, às 04.40 ordenei à Bombarda que não desembarcasse o grupo Papa e fizesse embarcar os grupos de Boulbinet. Para este efeito acedi ao pedido do major Leal de Almeida para ir a terra coordenar o reembarque. Regressei à Orion às 05.00. Quando tive conhecimento de que os reembarques estavam praticamente prontos, ordenei a formação de TU 27.2.1 constituída pela Hidra e Bombarda, com ordem de retirar o mais depressa possível da zona de acção. Os dois botes da Bombarda que ainda estavam a recolher pessoal em terra foram metidos dentro da Orion que pelas 05.40 navegou a contornar as ilhas de Los - evitando passar entre estas e Conakry por razões de segurança -, fundeando pelas 07.30 a milha e meia a N do molhe de La Prudence. No caminho, logo que tive conhecimento que o DFE estava reembarcado - cerca das 06.00 - ordenei à Cassiopeia e Dragão que colaborassem com a Montante no reembarque do pessoal ainda em terra a fim de, repito, deixar o menor número de vestígios. Como o dia clareava rapidamente, ordenei às duas LFG citadas para fornecerem à LDG apoio de fogo A/A, pois havia sempre presente a ameaça dos MiG. Pelas 07.40 abriram fogo de terra sobre os navios, verificando-se algumas «gerbes» muito dispersas e sem importância e que aliás terminaram depois de ter autorizado à Dragão e Montante o disparo de quatro tiros de peça de 40 mm sobre os pontos prováveis do tiro IN, junto à margem. Pelas 09.15 consegui finalmente reembarcar todo o pessoal que compareceu no local. Desde as 08.10 que tinha determinado a formatura em losango, a mais adequada contra ataques aéreos, ao rumo evasivo inicial de 240, o que finalmente se conseguiu pelas 10.30. Manteve-se o mais alto grau de prontidão antiaérea até cerca do pôr do Sol. Em 23.09.25 avistou-se o ilhéu do Poilão, tendo pelas 15.30 a força naval dado fundo ao ferro em frente de Soja.
Resultados obtidos. Sob o ponto de vista estritamente militar, a operação decorreu de forma muito satisfatória, atendendo ainda a que foi a primeira deste género realizada pelas nossas Forças Armadas. Grande parte dos objectivos foram conseguidos e numa acção normal todos seriam atingidos - à excepção dos MiG - pois ainda tinha margem de manobra e possibilidades dinâmicas para o fazer. Atendendo contudo à estreita margem de liberdade de acção que os princípios da estratégia indirecta, informadores do plano, consentiam, não se pôde ir mais além. Fazê-lo, seria correr um risco de consequências desastrosas. Por conseguinte, dentro da correcta cadeia de decisões - política, estratégica, operacional, táctica e técnica - a decisão política tinha de sobrelevar as outras: o nosso comprometimento tinha de se reduzir ao mínimo. Bem ou mal, o único juiz no campo da acção era eu. A decisão de retirar - e sabe Deus quanto me custou fazê-lo - foi minha. Dela assumo completa responsabilidade.
Dificuldades encontradas. A maior dificuldade encontrada foi devida a uma estranha e inexplicável atitude do major Leal de Almeida, de que só tive conhecimento na véspera do dia da partida e de que o general comandante-chefe nesse mesmo dia tomou conhecimento. Assim o armamento, distribuição de uniformes e contactos com os grupos do FNLG estavam muito atrasados, o que me obrigou a um esforço enorme na sexta-feira, dia 20, das 00.00 às 20.30. A companhia de comandos africana, talvez por não sentir no seu supervisor a rijeza de ânimo necessária, não estava mentalizada para a operação, obrigando-me na quinta-feira, dada a possibilidade de uma insubordinação, visto ter decidido trazer o major Leal de Almeida a Bissau, a falar duramente ao capitão João Bacar e seus oficiais. O capitão Bacar assegurou que cumpriria a missão que lhe fosse atribuída. De toda a forma considerei de alto valor psicológico, dado o estado de desmoralização da CCA, a visita do general comandante-chefe na manhã de sexta. As outras dificuldades não pesaram na resolução tomada. O longo período que mediou entre a gestação da operação e a respectiva execução permitiu-me examinar todas as decisões a tomar no mínimo pormenor. Assim, sabia de antemão quais seriam as minhas reacções perante as situações novas. A este nível de planeamento só não previ, confesso, a deserção do tenente Januário e alguns dos homens que o acompanhavam.
Propostas e sugestões.
1. Apesar de se ter procurado o maior número de elementos de informação possível, verificou-se que nem todos eram exactos. Urge, pois, a criação dum organismo dependente directamente do presidente do Conselho e dirigido por um subsecretário de Estado, onde sejam tratados todos os problemas de informação (no sentido de intelligence). A esse organismo, competiria ainda o planeamento de operações do género desta e, para a execução das mesmas, agregaria os meios necessários. O estado actual do funcionamento dos nossos serviços de informações é confrangedor, pela ausência duma estratégia nacional de informação. Chegamos mesmo ao ponto de termos órgãos de contra-informação a trabalharem em informação e a terem de dar satisfação a três ou quatro chefes diferentes. Este assunto é apenas mais um que se insere naquilo a que podemos chamar o problema da retaguarda. Estou contudo convencido e desde que a questão seja exposta convenientemente ao senhor presidente do Conselho, que se encontrará uma solução adequada pois, do contacto que tive com ele, fiquei com a certeza de que o senhor presidente é o primeiro a estar convencido de que o País está em guerra, o que muita gente, umas vezes ingenuamente, outras por comodidade, parece ignorar.
2. Parece-me ser de ponderar a questão do enquadramento das forças armadas africanas. É fora de dúvida que no presente momento só alguns oficiais graduados estão à altura da responsabilidade que lhes foi cometida. E nenhum deles tem nível para comandar mais do que um grupo de combate. Por conseguinte, não são de admitir graduações superiores a alferes. Urge também considerar os problemas psíquicos que surgem em alguns dos elementos da CCA sujeitos ao stress do combate há mais de sete anos e que actualmente apresentam uma síndroma de medo. Há que afastá-los para lugares fora das zonas de acção, onde se possam aproveitar. Creio que nos tempos mais próximos os comandantes das companhias africanas terão de ser oficiais com formação metropolitana, bem como alguns dos comandantes de pelotão. Sobre os actuais oficiais graduados julgo ser necessário que se aumente a bagagem de conhecimentos técnicos e culturais que possuem, através da frequência de cursos adequados.
3. Uma questão de elementar justiça exige que proponha algumas recompensas para os homens que mais se distinguiram em acção. Dado o ambiente muito secreto da operação, não creio ser conveniente mandar levantar autos de averiguações para a concessão das condecorações que abaixo proponho. Como melhor penhor dum cuidadoso julgamento apresento o facto de pertencer há perto de dois anos à comissão das medalhas de valor militar e cruz de guerra e, por conseguinte, de estar completamente integrado no espírito das NORPES.1º tenente Raul Eugênio Dias da Cunha e Silva, Cruz de Guerra de 3.ª classe, 2.° tenente Benjamim Lopes de Abreu, Cruz de Guerra de 3.ª classe, 2.° tenente Alberto Rebordão de Brito, Cruz de Guerra de 2.ª classe, alferes Ferreira, Cruz de Guerra de 4.ª classe (póstumo), alferes Tomás Camará, Cruz de Guerra de 4.ª classe, alferes Sisseco, Cruz de Guerra de 4.ª classe, 2.° sargento comando Marcelino da Mata, Cruz de Guerra de 3.ª classe, 2.° sargento FZE 7596 Germano Simões, Cruz de Guerra de 4.ª classe, 2.° Grt 093/ 69/G, Lutan Injai, Cruz de Guerra de 4.ª classe, soldado Mamadu Saliu Diallo, Cruz de Guerra de 4.ª classe, 2.° Grt FZE 038/9G Abu Camará, Cruz de Guerra de 4.ª classe, subtenente José Carlos Freire Falcão Lucas, Medalha de prata s/d c/palma, cabo FZE Epiménio da Costa Deitado, Medalha de cobre s/d c/palma, 1.° grumete 041/69-G Aurélio Azinhaga, Medalha de cobre s/d c/palma, soldado comando Raposeira, Medalha de cobre s/d c/palma, capitão Lopes Morais, louvor, alferes justo, louvor, 2.° sargento FZE 5341 Caldas, louvor, 2.° sargento Teixeira, louvor, cabo FZE 916/64 Telmo, louvor, 1.º grumete o46/69-G Augusto Có, louvor. Como estão a correr processos de condecoração do cabo FZE Rosa e do Mar FZE Tristão, creio que os serviços agora prestados devem ser considerados quando da respectiva apreciação. Proponho ainda que os navios da TG-2 sejam louvados colectivamente. (2
I - Missão atribuída. As missões atribuídas especificamente a este navio foram as seguintes: 1. Servir de posto de comando e navio chefe durante toda a operação. 2. Transportar o grupo Victor até ao local de desembarque, dar a necessária protecção à acção contra as vedetas e reembarcar o respectivo grupo. O grupo Victor era comandado pe1o 2.º tenente Rebordão de Brito. Compunha-se de 13 homens e dispunha de três botes Zebro III com motores fora de borda de 50 CV. 3. Dar todo o apoio logístico ao pessoal e material embarcado.
II. - Meios à disposição. Além dos meios próprios do navio, foram estes reforçados com material de comunicações, transporte, manutenção e abastecimentos considerados como necessários às missões atribuídas. Em pessoal, foi a guarnição do navio reforçada com um sargento artífice electricista artilheiro e um marinheiro telegrafista.
III - Forma como cumpriu a missão. Após a recepção da mensagem 2393EMC que criava a TG-2, procedeu-se ao aprontamento do navio. Para uma mais fácil consulta e estudo do decorrer dos movimentos preliminares e acção propriamente dita, apresenta-se o quadro cronológico dos acontecimentos mais importantes: 18.21.55 - O navio largou de Bissau rumo à ilha de Soga. 19.03.25 - Atracou-se à LFG Bombarda ao largo de Soga. Iniciaram-se imediatamente reuniões contínuas dos comandantes dos navios tendo como finalidade a mais perfeita planificação da actividade de cada unidade. 20.20.50 - Suspendeu-se da ilha de Soga, com todo o pessoal e material a bordo. 20.22.00 - Deu-se início à Operação Mar Verde. 20.22.50 - Atracou-se no ponto A (Zv=000 Ponta Bine da ilha de Canhambaque distante 4.5 milhas) à LFG Bombarda a fim de se esclarecer qualquer dúvida ainda existente e proceder-se a uma mais eficiente repartição de material de comunicações. 20.23.15 - Largou-se da LFG Bombarda rumando para o ponto B (Zv=090 ilhéu do Poilão distante 7.8 milhas) que foi atingido 21.01.40.
21.03.00 - Passou-se a navegar com ocultação de luzes. 21.04.55 - Passou-se pelo ponto C (Zv=032 ilhéu do Poilão distante 15 milhas). Os navios que até então navegavam em coluna foram divididos em dois grupos. Um constituindo uma screen de pesquisa e outro um main body constituído pela LFG Dragão e pelas LDG Bombarda e Montante. Este navio ocupava a posição central e mais avançada da screen. 21.18. 00 - Dado que se navegava em ocultação de luzes, foi dada ordem para que os navios passassem de novo à coluna. 21.20.45 - Avistou-se o farol da ilha de Tâmara, sendo dado ordem a todos os navios para rumarem independentes para os seus objectivos. 21.22.30 - Fundeou-se num ponto definido por Zv=094 ponta L'Arethuse distante 4 milhas da ilha de Tâmara. Justifica-se esta paragem em virtude do objectivo atribuído a este navio se encontrar mais próximo e haver necessidade de não chegar à vista do objectivo antes dos demais navios. 21.23.55 - Suspendeu-se e navegou-se para o objectivo. 22.00.50 - Fundeou-se por oeste do molhe de La Prudence a cerca de uma milha do porto de Conakry. 22.01.05 - Os botes foram colocados na água. 22.01.20 - Os botes largaram com o grupo Victor rumo ao objectivo. 22.01.40 - O grupo Victor recebeu ordem de CTG.2 para atacar. 22.01.55 - Avistaram-se a bordo as primeiras explosões dos navios atacados e ouviu-se o matraquear das armas ligeiras. 22.02.25 - Após terem cumprido a missão, os botes regressaram a bordo. 22.02.35 - Suspendeu-se rumo a LDG Bombarda, cujos grupos através das comunicações recebidas declaravam não encontrar os objectivos. 22.03.25 - Fundeou-se junto da LDG Bombarda, meia milha a sul do farol de Boulbinet. 22.04.30 - Desembarcou CTG.2 com destino à LFG Bombarda. 22.05.00 - Reembarcou CTG.2. 22.05.40 - Suspendeu-se após recuperar os botes. Foi dada ordem à LFG Hidra e LDG Bombada para formarem uma TU e afastarem-se rapidamente da costa. Este navio navegou a toda a sua velocidade contornando as ilhas de Los e juntando-se aos demais navios que ainda se encontravam a ajudar a recolher pessoal. 22.07.29 - Fundeou-se a norte do molhe de La Prudence, a cerca de milha e meia de terra. 22.07.55 - Suspendeu-se navegando para oeste. 22.08.20 - Navegou-se de novo para terra por se verificar haverem seis homens da Companhia de Comandos Africanos que estavam junto à praia prontos a reembarcar. 22.09.30 - Pairando junto da LDG Montante tendo um bote na água que recolheu os retardatários. 22.10.15 - Recolhido o pessoal soltou-se Rv=240 navegando de início os navios independentemente. 22.10.30 - As LFG Cassiopeia, Dragão e Orion e a LDG Montante fizeram uma formatura em losango para melhor poderem resistir aos possíveis ataques aéreos. 22.18.50 - Atracou-se a LDG Montante para que CTG.2 pudesse ouvir pessoalmente os chefes de equipa. 22.20.50 - Largou-se da LDG Montante passando a navegar-se em coluna e com ocultação de luzes. 23.09.25 - Avistou-se o ilhéu Poilão. 23.11.00 - Atracou no ponto A (atrás definido) à LDG Bombarda a fim de CTG.2 contactar pessoalmente os chefes de grupo. 23.13.25 - Largou-se da LDG Bombarda. 23.13.40 - Fundeou-se no canal de Canhambaque em virtude de se verificar falta de circulação de água salgada nos motores principais. CTG.2 embarcou LDG Hidra com destino a Bubaque. 23.14.25 - Suspendeu-se rumando para a ilha de Soga, tendo sido reparada a pequena avaria. 23.15.25 - Fundeou-se ao largo da ilha de Soga. 28.01.10 - Suspendeu-se com destino a Bissau. 28.07.00 - Fundeou-se ao largo de Bissau.
IV - Resultados obtidos. Em face das missões atribuídas a este navio julga-se terem sido todas total e eficazmente cumpridas. Apenas se vieram a verificar avarias após a chegada à ilha de Soga, finda toda a operação. O comportamento da guarnição deste navio esteve sempre à altura da missão atribuída.
V - Dificuldades encontradas. Nada a mencionar.
VI - Propostas e sugestões. Nada a mencionar. (3
Missão atribuída. Ocupar o Campo Samory. Meios à disposição 1 - Pessoal. a) CCA, 15 homens do meu grupo. b) Front Libération, 35 homens entre eles o major Thierne Diallo. 2 - Material. a) De guerra. I) CCA. 5 Esp. G-3, 10 Esp. Kalashnikov. II) Front Libération. 2 ML Degtyarev, 3 RPG-2, 5 Kalashnikov, 3 PM Schneisser, 5 PM M25, 17 Simonov. b) Transmissões. 5 Sharp, 1AVP-I c. Navais. O grupo cujo indicativo era Mike embarcou na LDG Montante. Forma como cumpriu a missão. A Montante encostou ao cais do Yatch Club pelas duas horas da madrugada. O pessoal quando desembarcou ouviu logo tiros na parte do porto que provocou alguma hesitação nos homens do Front, tendo o signatário passado para a frente com uma equipa sua; ali, com um guia do Front, iniciei a progressão para o Campo sem dificuldade nenhuma; a 100 metros do Campo e do meu lado direito surgiu uma viatura tipo «jipão»; mandada parar, verifiquei que levava feridos do Exército da Guiné. Interrogado, o condutor indicou o Campo Samory; entretanto, como tentasse seguir com a viatura, foi abatido. Segui para as traseiras do Campo; a porta estava aberta pelo que mandei avançar os elementos do Front; depois segui para a porta principal com uma secção; de uma torre fizeram uma rajada curta de Breda; mandei fazer um tiro de RPG-2 tendo calado a metralhadora e abatido o apontador; coloquei uma granada ofensiva no portão pequeno que saltou; entrei e abri o portão grande; não tive mais resistência de dentro do Campo; revistado o Campo, encontrei cerca de 15 autometralh adoras, 50 jipes e cento e tal viaturas tipo GMC. Em casas diversas encontrei quantidades enormes de metralhadoras pesadas, bazucas, morteiros, PM, espingardas Kalashnikov e Simonov e muitas munições; entretanto bastantes elementos tentaram entrar no Campo possivelmente para se armarem, mas os meus homens colocados de modo a bater a entrada impediram essas tentativas; estivemos cerca de três horas e meia dentro do Campo; durante esse tempo tentei entrar em contacto rádio com a lancha mas não consegui; entretanto, como tinha dois mortos e seis feridos resolvi retirar; chamei cinco elementos do Front para ocupar a porta principal, mostrei-lhes as arrecadações de material; igualmente organizei a resistência na porta traseira; como dois dos seis feridos estavam em estado grave não me foi possível recuperar os dois mortos, que revistei cuidadosamente na eventualidade de terem qualquer identificação; durante a progressão para o local de reembarque apareceu-me uma viatura tipo GMC cheia de soldados; a viatura parou, os soldados saltaram em terra e começaram a fazer fogo; mandei cinco homens para a direita e quatro para a esquerda; nós reagimos e entretanto, depois de fazer uma rajada, rebolei para o pé do RPG-2; agarrei nele e disparei para o depósito, tendo a viatura pegado fogo; seis soldados fugiram; durante a acção um dos feridos voltou a ser ferido por tiro numa perna. Cheguei ao cais, consegui ligação rádio com a lancha e vieram os botes recuperar o grupo.
Resultados obtidos. Baixas sofridas: dois mortos, dois feridos graves, quatro ligeiros entre os quais o signatário, com um estilhaço de granada na boca e outro no braço. Baixas infligidas ao IN. Mortos confirmados: Não os contou mas estimou em cerca de 100. Dificuldades encontradas. A falta de experiência de combate dos elementos do Front que quando ouviram tiros se assustaram facilmente. Aliás, estou convencido que os dois mortos que tive e o meu próprio ferimento foi consequência de uma roquetada disparada por um dos nossos, quando se apagou a luz na cidade. Outra dificuldade e grande foi a falta de entendimento com eles, motivada por diferença de línguas. Propostas e sugestões. É minha opinião que missões que não foram cumpridas, como sejam emissora e correios, foi por medo dos chefes e por falta de mentalização do pessoal. Para missões deste género, apenas deve ir pessoal voluntário, pois os que vão contrariados são mais estorvo que ajuda. Diversos. Quero salientar o soldado Mamadu Saliu Diallo, pois como apontador do RPG-2 destruiu cerca de 15 viaturas; muito sereno e enérgico debaixo de fogo, andou sempre à frente do grupo e desempenhou papel preponderante na defesa da entrada do Campo, pois só com as roquetadas o IN debandava; durante a retirada manteve-se sempre à frente a montar a segurança do grupo que transportava os feridos; sempre procurou os locais de maior perigo para com a sua bazuca resolver o problema; dá gosto ter homens como ele no meu grupo. Os restantes cumpriram bem com o que lhes foi determinado e sempre mantiveram calma e sangue-frio durante as tentativas de tomada do Campo pelo IN. (4
Grupo Victor. Missão. Tornar inoperativas as embarcações armadas inimigas (destruindo-as se possível), impedindo assim qualquer ataque por mar aos navios que integravam a TG.2. Meios à disposição. Pessoais: 14 fuzileiros especiais, um guia. Materiais: unidade de transporte e apoio NRP Orion, três botes Zebro III, 3 motores 50 HP, armamento ligeiro, granadas de mão ofensivas, defensivas e incendiárias. Execução da missão. Após ordem de CTG.2, largaram do NRP Orion em 22.01.20 três botes de borracha que em velocidade reduzida se dirigiram ao dique La Prudence. Daqui, aguardando ordem de CTG.2 para atacar, se fez a observação pormenorizada do porto. Em 22.01.40, recebida ordem para desencadear o ataque, lançaram-se os botes à máxima velocidade ao assalto dos navios inimigos. Eram estes em número de oito, dos quais sete vedetas rápidas e uma lancha de desembarque. De acordo com as informações do guia, três vedetas e a lancha de desembarque pertenciam ao PAIGC e os restantes à RDG. Praticada que foi a abordagem, eliminou-se imediatamente a sentinela do primeiro navio (pertencente ao PAIGC), procedendo-se em seguida à destruição deste bem como das restantes embarcações. O inimigo, embora apanhado de surpresa, reagiu de bordo com fogo de armas ligeiras e granadas de mão, e de terra com uma metralhadora pesada que batia os navios e a ponte-cais. No entanto os fuzileiros, já colocados em pontos estratégicos, neutralizaram esta resistência causando várias baixas ao IN. Executada a missão, regressaram os Zebro III a bordo do NRP Orion onde chegaram em 22.02.25. Resultados. Positivos: abatidos cerca de 15 a 20 inimigos, afundadas três vedetas e incendiadas quatro. Negativos: um ferido muito ligeiro. Dificuldades encontradas. Todas as que se depararam tinham sido previstas e expostas pelo CTG.2, de modo que o pessoal, bastante mentalizado e moralizado, não acusou o seu peso durante o desenrolar da acção. Propostas e sugestões. Crê o signatário, e propõe portanto, que acções deste tipo, embora difíceis no planeamento e na coordenação de todos os elementos intervenientes, sejam executadas sempre que possível e julgado conveniente, dado o grande abalo que necessariamente provocam nas estruturas não só materiais mas também morais no inimigo. Sabendo embora que excede um pouco as suas atribuições, não pode e não quer o signatário deixar de exprimir o seu profundo respeito e admiração pelo oficial comandante da TG.2. Não só no tocante à sua missão, da qual lhe foram expostos e explanados todos os pormenores concernentes, mas também no respeitante a todo o desenrolar da operação em que teve, uma vez mais, oportunidade de apreciar as qualidades de homem e de técnico militar e naval do comandante Alpoim Calvão. Com chefes desta estatura não há missões impossíveis. Quer também manifestar o seu muito apreço pelo apoio dado a bordo do NRP Orion, não só por parte do comandante e imediato como da restante guarnição, apoio esse que contribuiu em larga escala para o cumprimento da missão atribuída ao grupo Victor. Como é evidente, a análise e apreciação das qualidades da chefia e do apoio acima expostos inserem-se apenas dentro do conceito de confiança e moralização, que é primordial existir na mente de homens que executam missões comportando riscos, como os da operação de que o presente relatório é objecto. Não devem, portanto, ser encaradas como meros elogios, que, aliás, como atrás foi dito, excedem o âmbito deste relatório e as atribuições do signatário. Quanto aos elementos executantes, são credores de especial referência os: cabo FZE Rosa, 8916/ Mar. FZE Tristão, Grt. FZE 038/9G Abu Camará e 098/9G Pedro Lopes Júnior. (5
(1 - Despacho de Sua Excelência o comandante-chefe de 27 de Novembro de 1970.
Assunto: Operação Mar Verde.
SECRETO. Cópia cedida por Alpoim Calvão
(2 - “Operação Mar verde”, relatório do comandante, Guilherme Almor de Alpoim Calvão, capitão tenente. SECRETO.
Cópia cedida por Alpoim Calvão
(3 - Relatório elaborado pelo capitãp-tenente Alberto Augusto Faria dos Santos, comandante do NRP Orion, Bordo, 29 Novembro de 1970. SECRETO.
Cópia cedida por Alpom Calvão
(4 - “Operação Mar Verde”, Sisseco, alferes da Companhia de Comandos Africanos, Bissau, 5 de Dezembro de 1970. SECRETO.
Cópia cedida por Alpoim Calvão
(5 - “Operação Mar Verde”, relatório da missão atribuida ao grupo Victor, elaborado em cumprimento de exarado no despacho de 27 de Novembro de 1970 de S. Exª o comandante-chefe. Bissau, 29 de Novembro de 1070, Alberto Rebordão de Brito, 2º tenente.
SECRETO Cópia cedida por Alpoim Calvão
1. Apesar de se ter procurado o maior número de elementos de informação possível, verificou-se que nem todos eram exactos. Urge, pois, a criação dum organismo dependente directamente do presidente do Conselho e dirigido por um subsecretário de Estado, onde sejam tratados todos os problemas de informação (no sentido de intelligence). A esse organismo, competiria ainda o planeamento de operações do género desta e, para a execução das mesmas, agregaria os meios necessários. O estado actual do funcionamento dos nossos serviços de informações é confrangedor, pela ausência duma estratégia nacional de informação. Chegamos mesmo ao ponto de termos órgãos de contra-informação a trabalharem em informação e a terem de dar satisfação a três ou quatro chefes diferentes. Este assunto é apenas mais um que se insere naquilo a que podemos chamar o problema da retaguarda. Estou contudo convencido e desde que a questão seja exposta convenientemente ao senhor presidente do Conselho, que se encontrará uma solução adequada pois, do contacto que tive com ele, fiquei com a certeza de que o senhor presidente é o primeiro a estar convencido de que o País está em guerra, o que muita gente, umas vezes ingenuamente, outras por comodidade, parece ignorar.
2. Parece-me ser de ponderar a questão do enquadramento das forças armadas africanas. É fora de dúvida que no presente momento só alguns oficiais graduados estão à altura da responsabilidade que lhes foi cometida. E nenhum deles tem nível para comandar mais do que um grupo de combate. Por conseguinte, não são de admitir graduações superiores a alferes. Urge também considerar os problemas psíquicos que surgem em alguns dos elementos da CCA sujeitos ao stress do combate há mais de sete anos e que actualmente apresentam uma síndroma de medo. Há que afastá-los para lugares fora das zonas de acção, onde se possam aproveitar. Creio que nos tempos mais próximos os comandantes das companhias africanas terão de ser oficiais com formação metropolitana, bem como alguns dos comandantes de pelotão. Sobre os actuais oficiais graduados julgo ser necessário que se aumente a bagagem de conhecimentos técnicos e culturais que possuem, através da frequência de cursos adequados.
3. Uma questão de elementar justiça exige que proponha algumas recompensas para os homens que mais se distinguiram em acção. Dado o ambiente muito secreto da operação, não creio ser conveniente mandar levantar autos de averiguações para a concessão das condecorações que abaixo proponho. Como melhor penhor dum cuidadoso julgamento apresento o facto de pertencer há perto de dois anos à comissão das medalhas de valor militar e cruz de guerra e, por conseguinte, de estar completamente integrado no espírito das NORPES.1º tenente Raul Eugênio Dias da Cunha e Silva, Cruz de Guerra de 3.ª classe, 2.° tenente Benjamim Lopes de Abreu, Cruz de Guerra de 3.ª classe, 2.° tenente Alberto Rebordão de Brito, Cruz de Guerra de 2.ª classe, alferes Ferreira, Cruz de Guerra de 4.ª classe (póstumo), alferes Tomás Camará, Cruz de Guerra de 4.ª classe, alferes Sisseco, Cruz de Guerra de 4.ª classe, 2.° sargento comando Marcelino da Mata, Cruz de Guerra de 3.ª classe, 2.° sargento FZE 7596 Germano Simões, Cruz de Guerra de 4.ª classe, 2.° Grt 093/ 69/G, Lutan Injai, Cruz de Guerra de 4.ª classe, soldado Mamadu Saliu Diallo, Cruz de Guerra de 4.ª classe, 2.° Grt FZE 038/9G Abu Camará, Cruz de Guerra de 4.ª classe, subtenente José Carlos Freire Falcão Lucas, Medalha de prata s/d c/palma, cabo FZE Epiménio da Costa Deitado, Medalha de cobre s/d c/palma, 1.° grumete 041/69-G Aurélio Azinhaga, Medalha de cobre s/d c/palma, soldado comando Raposeira, Medalha de cobre s/d c/palma, capitão Lopes Morais, louvor, alferes justo, louvor, 2.° sargento FZE 5341 Caldas, louvor, 2.° sargento Teixeira, louvor, cabo FZE 916/64 Telmo, louvor, 1.º grumete o46/69-G Augusto Có, louvor. Como estão a correr processos de condecoração do cabo FZE Rosa e do Mar FZE Tristão, creio que os serviços agora prestados devem ser considerados quando da respectiva apreciação. Proponho ainda que os navios da TG-2 sejam louvados colectivamente. (2
I - Missão atribuída. As missões atribuídas especificamente a este navio foram as seguintes: 1. Servir de posto de comando e navio chefe durante toda a operação. 2. Transportar o grupo Victor até ao local de desembarque, dar a necessária protecção à acção contra as vedetas e reembarcar o respectivo grupo. O grupo Victor era comandado pe1o 2.º tenente Rebordão de Brito. Compunha-se de 13 homens e dispunha de três botes Zebro III com motores fora de borda de 50 CV. 3. Dar todo o apoio logístico ao pessoal e material embarcado.
II. - Meios à disposição. Além dos meios próprios do navio, foram estes reforçados com material de comunicações, transporte, manutenção e abastecimentos considerados como necessários às missões atribuídas. Em pessoal, foi a guarnição do navio reforçada com um sargento artífice electricista artilheiro e um marinheiro telegrafista.
III - Forma como cumpriu a missão. Após a recepção da mensagem 2393EMC que criava a TG-2, procedeu-se ao aprontamento do navio. Para uma mais fácil consulta e estudo do decorrer dos movimentos preliminares e acção propriamente dita, apresenta-se o quadro cronológico dos acontecimentos mais importantes: 18.21.55 - O navio largou de Bissau rumo à ilha de Soga. 19.03.25 - Atracou-se à LFG Bombarda ao largo de Soga. Iniciaram-se imediatamente reuniões contínuas dos comandantes dos navios tendo como finalidade a mais perfeita planificação da actividade de cada unidade. 20.20.50 - Suspendeu-se da ilha de Soga, com todo o pessoal e material a bordo. 20.22.00 - Deu-se início à Operação Mar Verde. 20.22.50 - Atracou-se no ponto A (Zv=000 Ponta Bine da ilha de Canhambaque distante 4.5 milhas) à LFG Bombarda a fim de se esclarecer qualquer dúvida ainda existente e proceder-se a uma mais eficiente repartição de material de comunicações. 20.23.15 - Largou-se da LFG Bombarda rumando para o ponto B (Zv=090 ilhéu do Poilão distante 7.8 milhas) que foi atingido 21.01.40.
21.03.00 - Passou-se a navegar com ocultação de luzes. 21.04.55 - Passou-se pelo ponto C (Zv=032 ilhéu do Poilão distante 15 milhas). Os navios que até então navegavam em coluna foram divididos em dois grupos. Um constituindo uma screen de pesquisa e outro um main body constituído pela LFG Dragão e pelas LDG Bombarda e Montante. Este navio ocupava a posição central e mais avançada da screen. 21.18. 00 - Dado que se navegava em ocultação de luzes, foi dada ordem para que os navios passassem de novo à coluna. 21.20.45 - Avistou-se o farol da ilha de Tâmara, sendo dado ordem a todos os navios para rumarem independentes para os seus objectivos. 21.22.30 - Fundeou-se num ponto definido por Zv=094 ponta L'Arethuse distante 4 milhas da ilha de Tâmara. Justifica-se esta paragem em virtude do objectivo atribuído a este navio se encontrar mais próximo e haver necessidade de não chegar à vista do objectivo antes dos demais navios. 21.23.55 - Suspendeu-se e navegou-se para o objectivo. 22.00.50 - Fundeou-se por oeste do molhe de La Prudence a cerca de uma milha do porto de Conakry. 22.01.05 - Os botes foram colocados na água. 22.01.20 - Os botes largaram com o grupo Victor rumo ao objectivo. 22.01.40 - O grupo Victor recebeu ordem de CTG.2 para atacar. 22.01.55 - Avistaram-se a bordo as primeiras explosões dos navios atacados e ouviu-se o matraquear das armas ligeiras. 22.02.25 - Após terem cumprido a missão, os botes regressaram a bordo. 22.02.35 - Suspendeu-se rumo a LDG Bombarda, cujos grupos através das comunicações recebidas declaravam não encontrar os objectivos. 22.03.25 - Fundeou-se junto da LDG Bombarda, meia milha a sul do farol de Boulbinet. 22.04.30 - Desembarcou CTG.2 com destino à LFG Bombarda. 22.05.00 - Reembarcou CTG.2. 22.05.40 - Suspendeu-se após recuperar os botes. Foi dada ordem à LFG Hidra e LDG Bombada para formarem uma TU e afastarem-se rapidamente da costa. Este navio navegou a toda a sua velocidade contornando as ilhas de Los e juntando-se aos demais navios que ainda se encontravam a ajudar a recolher pessoal. 22.07.29 - Fundeou-se a norte do molhe de La Prudence, a cerca de milha e meia de terra. 22.07.55 - Suspendeu-se navegando para oeste. 22.08.20 - Navegou-se de novo para terra por se verificar haverem seis homens da Companhia de Comandos Africanos que estavam junto à praia prontos a reembarcar. 22.09.30 - Pairando junto da LDG Montante tendo um bote na água que recolheu os retardatários. 22.10.15 - Recolhido o pessoal soltou-se Rv=240 navegando de início os navios independentemente. 22.10.30 - As LFG Cassiopeia, Dragão e Orion e a LDG Montante fizeram uma formatura em losango para melhor poderem resistir aos possíveis ataques aéreos. 22.18.50 - Atracou-se a LDG Montante para que CTG.2 pudesse ouvir pessoalmente os chefes de equipa. 22.20.50 - Largou-se da LDG Montante passando a navegar-se em coluna e com ocultação de luzes. 23.09.25 - Avistou-se o ilhéu Poilão. 23.11.00 - Atracou no ponto A (atrás definido) à LDG Bombarda a fim de CTG.2 contactar pessoalmente os chefes de grupo. 23.13.25 - Largou-se da LDG Bombarda. 23.13.40 - Fundeou-se no canal de Canhambaque em virtude de se verificar falta de circulação de água salgada nos motores principais. CTG.2 embarcou LDG Hidra com destino a Bubaque. 23.14.25 - Suspendeu-se rumando para a ilha de Soga, tendo sido reparada a pequena avaria. 23.15.25 - Fundeou-se ao largo da ilha de Soga. 28.01.10 - Suspendeu-se com destino a Bissau. 28.07.00 - Fundeou-se ao largo de Bissau.
IV - Resultados obtidos. Em face das missões atribuídas a este navio julga-se terem sido todas total e eficazmente cumpridas. Apenas se vieram a verificar avarias após a chegada à ilha de Soga, finda toda a operação. O comportamento da guarnição deste navio esteve sempre à altura da missão atribuída.
V - Dificuldades encontradas. Nada a mencionar.
VI - Propostas e sugestões. Nada a mencionar. (3
Missão atribuída. Ocupar o Campo Samory. Meios à disposição 1 - Pessoal. a) CCA, 15 homens do meu grupo. b) Front Libération, 35 homens entre eles o major Thierne Diallo. 2 - Material. a) De guerra. I) CCA. 5 Esp. G-3, 10 Esp. Kalashnikov. II) Front Libération. 2 ML Degtyarev, 3 RPG-2, 5 Kalashnikov, 3 PM Schneisser, 5 PM M25, 17 Simonov. b) Transmissões. 5 Sharp, 1AVP-I c. Navais. O grupo cujo indicativo era Mike embarcou na LDG Montante. Forma como cumpriu a missão. A Montante encostou ao cais do Yatch Club pelas duas horas da madrugada. O pessoal quando desembarcou ouviu logo tiros na parte do porto que provocou alguma hesitação nos homens do Front, tendo o signatário passado para a frente com uma equipa sua; ali, com um guia do Front, iniciei a progressão para o Campo sem dificuldade nenhuma; a 100 metros do Campo e do meu lado direito surgiu uma viatura tipo «jipão»; mandada parar, verifiquei que levava feridos do Exército da Guiné. Interrogado, o condutor indicou o Campo Samory; entretanto, como tentasse seguir com a viatura, foi abatido. Segui para as traseiras do Campo; a porta estava aberta pelo que mandei avançar os elementos do Front; depois segui para a porta principal com uma secção; de uma torre fizeram uma rajada curta de Breda; mandei fazer um tiro de RPG-2 tendo calado a metralhadora e abatido o apontador; coloquei uma granada ofensiva no portão pequeno que saltou; entrei e abri o portão grande; não tive mais resistência de dentro do Campo; revistado o Campo, encontrei cerca de 15 autometralh adoras, 50 jipes e cento e tal viaturas tipo GMC. Em casas diversas encontrei quantidades enormes de metralhadoras pesadas, bazucas, morteiros, PM, espingardas Kalashnikov e Simonov e muitas munições; entretanto bastantes elementos tentaram entrar no Campo possivelmente para se armarem, mas os meus homens colocados de modo a bater a entrada impediram essas tentativas; estivemos cerca de três horas e meia dentro do Campo; durante esse tempo tentei entrar em contacto rádio com a lancha mas não consegui; entretanto, como tinha dois mortos e seis feridos resolvi retirar; chamei cinco elementos do Front para ocupar a porta principal, mostrei-lhes as arrecadações de material; igualmente organizei a resistência na porta traseira; como dois dos seis feridos estavam em estado grave não me foi possível recuperar os dois mortos, que revistei cuidadosamente na eventualidade de terem qualquer identificação; durante a progressão para o local de reembarque apareceu-me uma viatura tipo GMC cheia de soldados; a viatura parou, os soldados saltaram em terra e começaram a fazer fogo; mandei cinco homens para a direita e quatro para a esquerda; nós reagimos e entretanto, depois de fazer uma rajada, rebolei para o pé do RPG-2; agarrei nele e disparei para o depósito, tendo a viatura pegado fogo; seis soldados fugiram; durante a acção um dos feridos voltou a ser ferido por tiro numa perna. Cheguei ao cais, consegui ligação rádio com a lancha e vieram os botes recuperar o grupo.
Resultados obtidos. Baixas sofridas: dois mortos, dois feridos graves, quatro ligeiros entre os quais o signatário, com um estilhaço de granada na boca e outro no braço. Baixas infligidas ao IN. Mortos confirmados: Não os contou mas estimou em cerca de 100. Dificuldades encontradas. A falta de experiência de combate dos elementos do Front que quando ouviram tiros se assustaram facilmente. Aliás, estou convencido que os dois mortos que tive e o meu próprio ferimento foi consequência de uma roquetada disparada por um dos nossos, quando se apagou a luz na cidade. Outra dificuldade e grande foi a falta de entendimento com eles, motivada por diferença de línguas. Propostas e sugestões. É minha opinião que missões que não foram cumpridas, como sejam emissora e correios, foi por medo dos chefes e por falta de mentalização do pessoal. Para missões deste género, apenas deve ir pessoal voluntário, pois os que vão contrariados são mais estorvo que ajuda. Diversos. Quero salientar o soldado Mamadu Saliu Diallo, pois como apontador do RPG-2 destruiu cerca de 15 viaturas; muito sereno e enérgico debaixo de fogo, andou sempre à frente do grupo e desempenhou papel preponderante na defesa da entrada do Campo, pois só com as roquetadas o IN debandava; durante a retirada manteve-se sempre à frente a montar a segurança do grupo que transportava os feridos; sempre procurou os locais de maior perigo para com a sua bazuca resolver o problema; dá gosto ter homens como ele no meu grupo. Os restantes cumpriram bem com o que lhes foi determinado e sempre mantiveram calma e sangue-frio durante as tentativas de tomada do Campo pelo IN. (4
Grupo Victor. Missão. Tornar inoperativas as embarcações armadas inimigas (destruindo-as se possível), impedindo assim qualquer ataque por mar aos navios que integravam a TG.2. Meios à disposição. Pessoais: 14 fuzileiros especiais, um guia. Materiais: unidade de transporte e apoio NRP Orion, três botes Zebro III, 3 motores 50 HP, armamento ligeiro, granadas de mão ofensivas, defensivas e incendiárias. Execução da missão. Após ordem de CTG.2, largaram do NRP Orion em 22.01.20 três botes de borracha que em velocidade reduzida se dirigiram ao dique La Prudence. Daqui, aguardando ordem de CTG.2 para atacar, se fez a observação pormenorizada do porto. Em 22.01.40, recebida ordem para desencadear o ataque, lançaram-se os botes à máxima velocidade ao assalto dos navios inimigos. Eram estes em número de oito, dos quais sete vedetas rápidas e uma lancha de desembarque. De acordo com as informações do guia, três vedetas e a lancha de desembarque pertenciam ao PAIGC e os restantes à RDG. Praticada que foi a abordagem, eliminou-se imediatamente a sentinela do primeiro navio (pertencente ao PAIGC), procedendo-se em seguida à destruição deste bem como das restantes embarcações. O inimigo, embora apanhado de surpresa, reagiu de bordo com fogo de armas ligeiras e granadas de mão, e de terra com uma metralhadora pesada que batia os navios e a ponte-cais. No entanto os fuzileiros, já colocados em pontos estratégicos, neutralizaram esta resistência causando várias baixas ao IN. Executada a missão, regressaram os Zebro III a bordo do NRP Orion onde chegaram em 22.02.25. Resultados. Positivos: abatidos cerca de 15 a 20 inimigos, afundadas três vedetas e incendiadas quatro. Negativos: um ferido muito ligeiro. Dificuldades encontradas. Todas as que se depararam tinham sido previstas e expostas pelo CTG.2, de modo que o pessoal, bastante mentalizado e moralizado, não acusou o seu peso durante o desenrolar da acção. Propostas e sugestões. Crê o signatário, e propõe portanto, que acções deste tipo, embora difíceis no planeamento e na coordenação de todos os elementos intervenientes, sejam executadas sempre que possível e julgado conveniente, dado o grande abalo que necessariamente provocam nas estruturas não só materiais mas também morais no inimigo. Sabendo embora que excede um pouco as suas atribuições, não pode e não quer o signatário deixar de exprimir o seu profundo respeito e admiração pelo oficial comandante da TG.2. Não só no tocante à sua missão, da qual lhe foram expostos e explanados todos os pormenores concernentes, mas também no respeitante a todo o desenrolar da operação em que teve, uma vez mais, oportunidade de apreciar as qualidades de homem e de técnico militar e naval do comandante Alpoim Calvão. Com chefes desta estatura não há missões impossíveis. Quer também manifestar o seu muito apreço pelo apoio dado a bordo do NRP Orion, não só por parte do comandante e imediato como da restante guarnição, apoio esse que contribuiu em larga escala para o cumprimento da missão atribuída ao grupo Victor. Como é evidente, a análise e apreciação das qualidades da chefia e do apoio acima expostos inserem-se apenas dentro do conceito de confiança e moralização, que é primordial existir na mente de homens que executam missões comportando riscos, como os da operação de que o presente relatório é objecto. Não devem, portanto, ser encaradas como meros elogios, que, aliás, como atrás foi dito, excedem o âmbito deste relatório e as atribuições do signatário. Quanto aos elementos executantes, são credores de especial referência os: cabo FZE Rosa, 8916/ Mar. FZE Tristão, Grt. FZE 038/9G Abu Camará e 098/9G Pedro Lopes Júnior. (5
(1 - Despacho de Sua Excelência o comandante-chefe de 27 de Novembro de 1970.
Assunto: Operação Mar Verde.
SECRETO. Cópia cedida por Alpoim Calvão
(2 - “Operação Mar verde”, relatório do comandante, Guilherme Almor de Alpoim Calvão, capitão tenente. SECRETO.
Cópia cedida por Alpoim Calvão
(3 - Relatório elaborado pelo capitãp-tenente Alberto Augusto Faria dos Santos, comandante do NRP Orion, Bordo, 29 Novembro de 1970. SECRETO.
Cópia cedida por Alpom Calvão
(4 - “Operação Mar Verde”, Sisseco, alferes da Companhia de Comandos Africanos, Bissau, 5 de Dezembro de 1970. SECRETO.
Cópia cedida por Alpoim Calvão
(5 - “Operação Mar Verde”, relatório da missão atribuida ao grupo Victor, elaborado em cumprimento de exarado no despacho de 27 de Novembro de 1970 de S. Exª o comandante-chefe. Bissau, 29 de Novembro de 1070, Alberto Rebordão de Brito, 2º tenente.
SECRETO Cópia cedida por Alpoim Calvão
BIBLIOGRAFIA
A Guerra de África (1961-1974)
José Freire Antunes - Circulo dos Leitores - VOL IV
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