segunda-feira, 18 de maio de 2009

DEPOIMENTOS

TOMÉ PINTO


Capitão do quadrado





Não esquece a solidariedade e o companheirismo quando foi atingido por uma bala em Angola e pensou que ia morrer. Deu instrução de luta antiguerrilha em Mafra e foi outra vez mobilizado. Na Guiné, viveu com a companhia em barracões de zinco, fez muitas patrulhas, tornou-se conhecido pelos grupos do PAIGC como o «capitão do quadrado», pela forma como dispunha as tropas em combate. Viu um filme após seis meses de isolamento da civilização. Quis atrair populações, num aldeamento, contribuir para o seu desenvolvimento, ensiná-las afazer pão, armá-las de modo a que zelassem pela sua própria segurança. Nos contactos com os guineenses sob sua protecção, à roda dos homens velhos, debaixo de uma árvore, reviveu traços da afectividade comunitária de seu Trás-os-Montes natal. Foi ferido novamente, desta vez pelo estilhaço de uma granada de morteiro, que ainda tem. O general Alípio Tomé Pinto voltou em 1972 a Angola, para nova comissão, mas foi da Guiné que reteve memórias mais impressivas.
Em Maio de 1961 foi para Angola. A sua companhia percorreu os Dembos, sem tempo para instalar as camas que transportava em camionetas. Foi ferido numa emboscada, escreveu com o próprio sangue e chegaram a ministrar-lhe a extrema-unção. Mas em Nova Lisboa tinha uma vida melhor do que em Lisboa e ia comer lagosta ao Lobito.
Em Janeiro de 1961 casei-me. Nessa altura, só podíamos casar aos 25 anos. Eu fiz 25 anos no dia 14 de Janeiro e casei no dia 28 de Janeiro. Estive para não ir ao meu casamento, como dizia o meu comandante, coronel Garoupa, porque entretanto aconteceu a questão do Santa Maria. O coronel Garoupa dizia-me com alguma graça: «Tomé Pinto, não sei se poderás ir ao teu casamento porque estamos de prevenção.» Felizmente, lá acabei por ir ao meu casamento, assim como todos os oficiais. A partir daqui, a nossa vida entrou num outro ritmo. Em Maio, começámos a fazer preparação intensa e foram algumas tropas para Angola. Todos nós sabíamos que, de um momento para iríamos para Angola. Começa-mos a preparar alguns quadros em Mafra e em Maio estava eu a caminho de Angola. Era ainda subalterno, tenente e levei uma companhia de Viseu, a 129, de rapazes que já estavam na disponibilidade, que já tinham cumprido dois anos de serviço militar e que foram chamados para cumprirem mais dois anos em Angola. Julgo que alguns desses rapazes estiveram um total de cinco anos no serviço militar. Isto mostra bem o espírito de dádiva com que partíamos. Era complicado ir para Angola. Era toda uma vida que mudava, tanto para aqueles que tinham estudado cinco anos num curso, como para os que não estudaram, e para os que já estavam casados. Mas não encontrei em nenhum deles qualquer reacção negativa ou espírito de revolta.
Havia alguma insatisfação mas havia sobretudo um sentimento que era exterior a nós - a resposta ao chamamento que nos estavam a fazer. Não tive ninguém dentro da companhia que me dissesse que não ia, que desertasse ou que criasse problemas; eles tinham os seus problemas mas consideravam que havia mais qualquer coisa acima disso. O meu batalhão foi dos primeiros a chegar a Angola. Houve um desfile à saída do porto, na Avenida Marginal, com palmas e entusiasmo. Nós íamos de caqui amarelo, com a Mauser, e pouco mais, a não ser uma forte vontade em contribuir para a pacificação nas zonas onde tinha havido e havia graves conflitos. Sentíamos que estávamos a cumprir uma missão, e eu nunca pus isso em causa. Inicialmente, tivemos muitas dificuldades logísticas, que só o nosso desembaraço e a nossa maneira de ser permitiram ultrapassar. Eu sou oficial do Quadro Permanente, mas os milicianos e o pessoal do serviço militar obrigatório que lá estavam já tinham cumprido o seu serviço militar, ao longo de dois anos, e tinham voltado, com uma disponibilidade permanente. Assim os comandantes deles os compreendessem e os acompanhassem. Tive um comandante, o capitão Albuquerque, que era o primeiro a dar o exemplo: estava no meio das dificuldades e tentava resolvê-las. Foi fácil com aquela gente toda da região de Viseu, que deu o melhor do seu esforço. Estivemos em Luanda à espera do material de guerra, que não chegava, mal instalados, num seminário sem paredes e com mosquitos. Passado menos de um mês andávamos numas viaturas civis com camas metidas em camionetas como se fôssemos bombeiros: à medida que havia conflitos, nós aprecíamos. Nunca tivemos tempo instalar as camas porque nunca tivemos um quartel. Havia dificuldades no Norte, por causa dos rios e porque as pontes estavam destruídas, mas o espírito de dádiva ultrapassou tudo. Depois, havia um grande companheirismo. Nós vivíamos todos juntos: o médico, o capelão os alferes milicianos.
Encontrei pessoas com uma coragem extraordinária. Quando cheguei ao Quitexe, onde houve uma das mortandades grandes, de civis, mulheres, crianças, ainda vi sangue seco em muitas paredes. Quitexe estava abandonado e a minha companhia foi para Quizalala, onde começou o terrorismo, que é uma estrada que vai de Quitexe até S. José do Encoge, onde havia uma antiga fortaleza portuguesa, na região Dembos. Quando íamos a caminho sentimos que havia ali indícios de população, e fomos ver o que é que se tinha passado, até que chegámos à fazenda do Poço. Nunca mais me esqueci de um homem, branco, de camisa negra, de quarenta e poucos anos, que estava lá com alguns naturais de Angola. Quando lá chegámos, dissemos-lhe: «Então. Está aqui sozinho, numa zona destas? Tem de se vir embora connosco.» Mas ele, de lágrimas nos olhos, disse-nos: «Não. Aqui mataram a minha mulher, mataram-me um filho e um irmão. Portanto, o meu é aqui. Eu não saio daqui.» Este tipo de coisas dava-nos uma força e uma dimensão moral extraordinária, e todas as dificuldades eram ultrapassadas. Lá fomos para Quizalala e fizemos os patrulhamentos. Era a uma zona isolada onde não tínhamos populações e onde havia uns combates. Nesta ocasião, houve outras companhias que tiveram confrontos com grandes núcleos massas humanas. Houve uma companhia, a 115, de Mafra, que se confrontou num outro itinerário com massas de população com catanas Eu, felizmente, não tive situações desse género; eram mais situações de emboscadas ligeiras. Subíamos à serra do Pingano, descíamos e, vez em quando, havia uns confrontos. Estivemos também mais a norte, em Nova Caipemba, no Songo, Carmona. Deslocávamo-nos sempre na zona, ficávamos quinze dias num lado, regressávamos. A nossa zona foi definida assim: saímos de Luanda e fomos para Dondo, e daí para Camabatela, Negage. Parámos uns dias porque havia conflitos, e seguimos para o Uíje, Songo, Luceia. Depois, andámos naquela zona de Luceia e voltámos ao Songo, Uíje, Quitexe e por fim a Quizalala, onde estivemos mais tempo. Quizalala era uma fazenda lindíssima, com umas matas de café bem tratadas, era maravilhoso. Era até pena haver guerra. Mesmo nós na guerra, às vezes parávamos, sentávamo-nos, e ficávamos em silêncio a ouvir a vida e a floresta. Lá andávamos, dávamos uns tiros, mas o nosso contacto com as populações era mínimo.
Num desses contactos, em Novembro de 1961, caímos numa emboscada junto a Quijoão, e eu fui ferido por um projéctil, que entrou pelo lado esquerdo da cara e alojou-se no outro lado, junto à carótida. Partiu-me o maxilar. Houve à minha volta uma extraordinária solidariedade. Eu vinha num daqueles jipões, naquelas picadas que eram um bocado difíceis, e só recebi os primeiros cuidados médicos no estacionamento, duas horas depois, com o sangue a cair. A maneira como o médico que me viu me auscultou, e os gritos que ele deu a pedir um helicóptero que não havia, é que me fizeram perceber que a situação devia estar má. O médico, o Dr. Victor, pedia um helicóptero mas penso que só havia um na Região Militar de Angola. Como eu tinha o maxilar partido, não podia falar, mas estava extraordinariamente consciente de tudo o que se passava. Fui de jipão para o Uíje, durante umas cinco horas, e depois começou a chover. Eu escrevia com o meu sangue nas mantas a dizer que estava mal. Já próximo de Carmona, senti que estava a entrar em choque e disse a mim mesmo que não podia entrar em choque. Os jovens quando querem têm uma força muito grande. Aguentei, com os soldados a meu lado, sempre a acompanharem-me, a agarrarem-me por causa dos solavancos naquelas picadas, com umas mantas de um lado e de outro, a procurarem que eu não tivesse grandes solavancos. Foram-me sempre animando, até ao hospital, e só no hospital é que houve possibilidade de ser tratado. O pelotão que me acompanhou, e do qual eu era comandante, ficou toda a noite no hospital. Todos eles me deram sangue, deram sangue ao seu tenente.
Devo a minha vida ao cabo enfermeiro Leonel Eurico Pires. No dia seguinte, tive de ser evacuado para Luanda, num Dornier, com o Leonel a acompanhar-me. Fomos de avião, mas como entretanto chegou a hora do almoço dos pilotos, aterraram no Negage. Quando aterrei, talvez por causa do voo, comecei a sentir-me pior. Veio um médico ver-me, chamou um capelão, e este perguntou-me se eu queria levar a extrema-unção. Pela primeira vez, pensei que aquilo era para morrer e, mesmo pouco convencido disto, fiz sinal que sim. Meteram-me-numa maca e levaram-me para um barracão de zinco. Toda a gente se foi embora almoçar, mas o Leonel não me abandonou. Entretanto, começou uma daquelas chuvadas tropicais. Foi quando pensei: «Isto é para morrer, mas não há maneira de eu morrer. Eu não posso morrer.» Deviam ter passado umas duas horas, ganhei nova força dentro de mim e comecei a escrever num papel que pedi ao Leonel. Ficava muito zangado porque o Leonel não lia aquilo que eu escrevia - eu pensava que estava a escrever bem mas afinal não tinha feito mais que um risco desde o princípio ao fim da folha. O Leonel, porém, apercebeu-se de qualquer coisa e disse-me: «Meu tenente, aguente aí que eu vou à messe dos oficiais. Vou buscar um médico. Não demoro.» Ele chegou à messe e insultou os oficiais: «Os senhores estão aqui a comer e o meu tenente está a morrer.» Nessa ocasião, foram todos para o barracão. Eu não me apercebia bem do que é que se passava à minha volta, só lhes dizia que não queria injecções de morfina porque não queria nada que me adormecesse as dores. Depois queriam-me tirar os coágulos de sangue, mas eu também disse que não. Se me tirassem os coágulos de sangue, outro sangue viria em hemorragia. O médico dizia que eu tinha de ir para Luanda mas chovia imenso e as pistas eram de terra batida. Mas o comandante da base disse que iam levantar dois aviões, um comigo e outro, para ver se não acontecia nada ao meu avião por causa da chuva. O avião fez uma primeira tentativa, mas não conseguiu levantar porque aquilo era só lama, terra e chuva. Fez-se uma segunda tentativa, mas foi a mesma coisa. Eu ouvia alguém dizer: «Não é possível levantar.» E outra pessoa dizia: «Mas tem que levantar.» Houve uma terceira tentativa e o avião lá levantou. Fui para Luanda, com o Leonel a meu lado, a conversar e a animar-me. Eu tinha uma vontade imensa de me curar. Isto serviu de exemplo para eu dar aos meus militares: quando se é jovem, ou se morre nos primeiros cinco minutos, ou o indivíduo tem obrigação de resistir e de não se deixar morrer. A parte psicológica era extraordinariamente importante. Esta foi a minha primeira grande experiência humana, a de sentir a solidariedade dos soldados.
Depois vim para Lisboa acabar os tratamentos, e regressei novamente a Angola. Eu tinha sido entretanto promovido e a minha missão podia ter sido dada por finda. Mas não me sentia bem aqui porque pensava: «Os meus soldados estão lá e eu estou aqui? De maneira nenhuma. Por isso voltei a Angola. Mas, como fui promovido, não voltei a companhia, para pena minha. Fiz questão de ir visitar o pessoal companhia, que já estava noutra zona, no coração dos Dembos, em Pire. Demorei uma semana a chegar à companhia: ia de patrulha em patrulha, a pedir boleia às patrulhas. Mas tive uma recepção que valeu a pena todo esse esforço. Fiquei lá uns dias com eles. Recordo a mulher do Alferes Domingos, que ali ficava sofrendo enquanto o marido estava fora em patrulhas, sem dizer uma palavra, vivendo em condições inimagináveis. Tivemos muitas mulheres que viveram situações deste género Também na Guiné tive uma situação mais ou menos semelhante: a mulher de um médico que passou uns meses com o marido numas condições muito difíceis. Depois dei-lhe um pseudoquarto, na zona melhor, para eles estarem. Fui colocado em Nova Lisboa, hoje Huambo. Aí foi outra coisa. Tive uma companhia de pessoal de Angola, num regimento territorial, da guarnição local. Fui chefe de estado-maior do comando da zona. Nessa altura, no Huambo, vivia-se muito bem. Era onde havia uma das principais fábricas de cerveja. De vez em quando, dizíamos: «Vamos comer uma lagosta ao Lobito.» Percorríamos 400 quilómetros num fim-de-semana, como se fosse ali ao lado. Ou íamos passar um fim-de-semana a Luanda, que ficava a 700 quilómetros. Havia uma vida muito aberta Aí, não havia terrorismo, não havia tiros, não havia nada, só a imensidão de Angola que eu percorria, procurando ir a todo o lado. Em Nova Lisboa, levávamos uma vida melhor que em Lisboa. Fazíamos s trabalho profissional, nada mais, com alguma intensidade mas com muito entusiasmo. Apaixonei-me pelos coros africanos e fiz uma recolha para gravar aquelas canções aqueles coros. Eu gostava de conviver, de conversar, de estar com eles.
Fui instrutor de treino em Mafra e partiu para a Guiné com uma companhia de voluntários. Em Binta, onde foi colocado com os seus rapazes, a guerra era difícil. O PAIGC conhecia-o como o «capitão do quadrado», devido à formação que usava em combate.
Quando regressei da minha primeira comissão em Angola fui colocado em Mafra e nomeado director de um tirocínio para aspirantes. Fiz um treino intensivo sobre guerrilha. Servi-me da serra de Sintra, quer no aspecto doutrinário, quer no aspecto da preparação física e psicológica. Eu era o chefe de curso e procurei transmitir toda a minha experiência, talvez com uma certa dureza, porque sabia que tinha pouco tempo e queria transmitir muito. Lembro-me de uns exercícios que fizemos no Natal, na serra de Sintra, durante os quais um dos oficiais disse-me: «Meu capitão, a guerra de certeza que não é mais dura do que isto! » E em Janeiro estava a preparar uma companhia em Évora, já era eu comandante, para irmos para África. Sabendo que íamos para a guerra, ou para Moçambique ou para a Guiné, tive trinta e tal voluntários, rapazes que podiam não ir ou que podiam ir noutra companhia, mas que quiseram ir comigo. Fomos para a Guiné, em Maio de 1964. Havia três zonas para irmos e um oficial do quartel-general, que me conhecia, disse-me: «Tomé Pinto, há três zonas para ir: uma muito má, uma mais ou menos, e outra boa. Como tu já foste ferido, em princípio a tua companhia vai para uma zona boa.» Então, fiquei a treinar a companhia, já diferente de Angola, com mais meios, para uma guerra mais difícil. Passados uns dias, chamaram-me outra vez ao quartel-general e o mesmo oficial começou por pedir desculpa, porque não devia ter dito o que disse. Conclusão: a minha companhia foi para o pior sítio porque já tinha experiência. Nunca pedi para ir para lado nenhum, mas também nunca recusei. Aceitei ir e só pedi o maior apoio possível.
Fomos metidos num barco ao longo do mar, entrámos no rio Cacheu, e fomos despejados em Binta, entre Farim e Bigene. Era o corredor que vinha do Senegal e que depois entrava no coração da guerrilha, que era o Óio, onde a tropa que estava em Bigene não avançava e a tropa que estava em Farim também não avançava. Eu vim pelo rio e deixaram-me no meio. Ali fiquei, com os meus rapazes excepcionais. Deles costumo dizer: «O soldado bate-se pelo seu capitão, e não pela sua bandeira.» Aqui a amizade suplantava o patriotismo, era a questão do grupo. Senti mais esse espírito porque fui eu que os formei, havia alguns voluntários, eram um pouco a família. A guerra na Guiné já era difícil. Na noite em que desembarquei com todos os materiais, houve logo fogo-de-artificio, como nós costumávamos dizer, com ataques ao estacionamento. Ali iniciei uma estratégia. Só saía com as viaturas do estacionamento passado um mês; eu não me metia às estradas porque sabia que se me metesse às estradas iria servir de objectivo, e aí eles eram mais fortes do que eu porque conheciam bem o terreno, e estavam certamente mais treinados. Eu não quis ser alvo. As distâncias na Guiné eram diferentes das de Angola: em Angola, 100 ou 200 quilómetros não eram nada; na Guiné, da minha zona para Farim eram só 16 quilómetros, mas se eu conseguisse circular em toda ela já não era nada mau. Era ali ao lado, mas demorei um mês a ir ali ao lado.
Instalei-me o melhor que pude, que foi em barracões de zinco. Com o clima da Guiné, com o tempo quente, não é nada agradável, sem electricidade, sem frigoríficos. No primeiro desembarque, fiz logo uma patrulha envolvente ao próprio estacionamento. Durante o primeiro mês, saía quase todas as noites, às nove da noite, fosse com o efectivo que fosse, percorríamos cinco ou seis quilómetros e estacionávamos. Durante o dia é que eu irradiava: fugia das estradas e percorria o mato. Depois, usei uma formação que levou a parte contrária, os indivíduos do PAIGC, a chamarem-me o «capitão do quadrado». Eu soube isso porque havia contactos com o Senegal. Como sou um apaixonado pela nossa História e pelos nossos feitos, usei a táctica do quadrado, uma defesa que se fazia muito em Moçambique. Pensei que para sobreviver no meio daquilo tudo, eu tinha pouca gente, eles eram mais do que nós; e, em vez de ter o quadrado fixo, passei a movimentá-lo. E tive casos em que eles atacavam por trás, ou pelo lado, mas encontravam sempre resistência. Gastámos muito mais botas e muito mais calças a atravessar o mato, porque não íamos nas estradas, mas fugíamos das minas e éramos nós que comandávamos o local onde estávamos. Esse era um dos dispositivos que tínhamos. Claro que havia ocasiões, em noites de breu, de chuva e tão escuras, que tínhamos de ir ligados, ou por uma corda (o que era pouco usado) ou pelas espingardas. Um ia agarrado numa ponta da espingarda e o outro na outra, porque não víamos o homem que ia à nossa frente. Eu saía mesmo nessas noites e tinha um espírito de orientação muito grande.
Não tinha ideias de destruir, só queria trazer os meus soldados vivos. Isso levava-me a tudo. Eu saía, às vezes, com grupos de nove como saía com grupos de sessenta. Nos primeiros seis meses, saía em todas as patrulhas. Sentia que era útil o facto de eu ir. Para o soldado, isso significava que estava tudo bem, que não havia problemas. E, às vezes, sabe Deus como é que era. Muitas vezes dei por mim, como eles o faziam, a colocar o cantil à frente do estômago ou a pôr mais uns carregadores nos bolsos do camuflado. Quando eu os via cheios de carregadores, olhava para eles e sorria. Eram pequeninas coisas, bastava um olhar para eu saber o que ia na alma de um soldado. Ai do comandante que não soubesse ler o que ia na alma do soldado. Eu tive medo, toda a gente tem situações de fraqueza, o vomitar antes de uma patrulha, a falta de apetite. Tinha que se acarinhar, mas sem paternalismos, sem que os outros pressentissem. Às vezes, bastava só o toque com uma das mãos no braço de um soldado, de maneira a que os outros não vissem, para ele se sentir melhor. Nos primeiros seis meses, assisti a todas as acções de tiro que houve porque não houve nenhuma a que eu não fosse; quando eu não ia, procurava que não houvesse tiros, mandando-os para zonas onde achava que não havia nada. Foram cinquenta e tal acções de combate em seis meses. Eu saía às vezes com efectivos grandes - dois pelotões, sessenta homens - mas depois punha-me a fazer contas, como se desfiasse um rosário, quando era para recolher o pessoal.
Uma vez estive cercado e para sair do cerco foi complicado. Foi logo das primeiras vezes. Eu vinha com o tal quadrado mas eles eram em maior número porque tinham vindo reforços e tinham uma companhia muito boa. Tenho de elogiar os meus adversários porque eles eram, de facto, muito bons. Eram os chamados bigrupos, muito bem treinados. Fiz um ataque numa determinada zona e quando vinha a caminho, depois de ter colocado postos de recolha e de reforço a caminho, e de empenhar todo o efectivo, comecei a ter tiros de todo o lado, já muito próximo do primeiro posto de reforço. Pensei que estava cercado. Os homens do PAIGC fizeram bem: sentiram o meu dispositivo, viram que ali não iriam só por um dos lados e decidiram provocar ali qualquer coisa, esperando. deitados. Houve logo uns feridos, alguns com uma certa gravidade, e aí começou o drama. Comecei aos gritos: «Alarga, alarga, alarga.» Isto para alargarem o quadrado. Eles tentaram romper o quadrado mas não conseguiram. A certa altura, em disse para um soldado: «Cuidado com os tiros, estás quase a dar-me um tiro.» E ele disse-me: «Meu capitão, não sou eu, é um que está ai à frente.» Eu saí dali para ir dar outras indicações e, passado um bocado, veio ter comigo esse soldado com uma arma ao lado, e disse-me: «Era esta a arma que estava a fazer fogo contra si.» Eu nem lhe disse nada. Então, pedi o apoio da Força Aérea e vieram dois T-6. O meu batalhão era o do tenente-coronel Fernando Cavaleiro, que aparecia sempre no meu estacionamento nos momentos mais difíceis, e que pensou: «É desta que o Tomé Pinto não se safa.» Mas eu consegui entrar em contacto com os T-6 e disse-lhes que tinha um ferido muito grave que teria que ser evacuado em helicóptero. Eles disseram-me: «Nós estamos a ver o teu dispositivo mas à volte há muita gente.» E iam levando uns tiros nos aviões. Eu respondi-lhes: «Tem que ser, não há outra hipótese. Eu vou identificar o nosso dispositivo.»
Consegui identificar o nosso dispositivo, levantando um e depois outro, e depois fiz um tiro à nossa volta, para que o helicóptero pudesse aterrar no meio do quadrado, que eu fui alargando. O piloto foi excepcional, conseguiu aterrar no meio do quadrado, eu meti dois soldados feridos, um deles muito grave, e o helicóptero levantou. Aí pensei: «A partir de agora é connosco.» Contactei os T-6 e disse-lhes: «Eu tenho um grupo que está em tal lado. Vocês vão até ao meu estacionamento e vejam se está um grupo aqui e outro ali.» «Sim, estão identificados», disseram eles. «Então, ninguém mexa porque eu estou em ligações com eles. Agora, vais bombardear esta zona entre aquela árvore e aquela árvore, para abrir um caminho», pedi-lhes. Eles perguntaram: «E se acertamos em vocês?» Respondi que eles tinham mesmo de bombardear e eles usaram só tiros de metralhadora. Então alertei o pessoal e saímos imediatamente atrás dos tiros de metralhadora. Nessa altura, o piloto, entusiasmado, dizia-me: «Já percebi o que querias!» Consegui fazer o torneamento. Depois, saímos de lá com algumas dificuldades, fomos até ao primeiro posto de recolha, que tinha ficado a assegurar-nos a retaguarda, chegaram viaturas e fomos para o estacionamento. Foi um desgaste físico, um cansaço muito grande. Foram muitas horas, das nove da noite até às quatro da tarde, hora em que saímos dali, em acção de combate, não sei quantas horas ali amochados. Eu andava na zona, circulava, saía com as viaturas. Uma vez, disse para o comandante de Farim: «Meu tenente-coronel, eu vou almoçar aí a Farim. » Ele disse: «Almoçar? Mas para isso é preciso pedir a aviação.» «Não, não diga é nada a ninguém que eu vou aí almoçar», disse-lhe eu. E, de facto, fui. Cheguei um bocadinho atrasado mas fui lá almoçar, com viaturas e tudo. Foi muito simples: fui fora da estrada, limpei o que estava fora da estrada e depois foi só chegar. A estrada tinha só uns abatises que eu já sabia porque a tinha sobrevoado, levava já os mecanismos preparados para desviar os abatises, e depois foi só chegar o mais rapidamente possível - a dificuldade era o regresso. Mas, para o regresso, eu tinha deixado ao longo do itinerário quase toda a companhia.
Chegou a ter mil pessoas num aldeamento. Ter populações era um motivo de orgulho para os capitães. Havia na companhia cerca de trinta analfabetos que fizeram a 4.° classe. Tomé Pinto fez ferras no gado, viu filmes no mato, pescou. Foi novamente ferido e Shultz visitou-o no hospital. Depois foi para Angola. Soube do 25 de Abril porque o seu telefone era usado para ligar para Lisboa.
Quando começámos a circular à vontade na zona, eu disse que a guerra não era para destruir, era para construir e que queria população. Não tinha população porque havia pouca em Binta. Mas precisávamos de informação, de saber o que se passava, porque havia muitos grupos armados ali na zona para assegurar a passagem para o coração da guerrilha, que era no Óio. Eu tinha guias muito bons. Um deles, o Mamadu, era o irmão do régulo. E dizia aos soldados que o Mamadu valia por uma secção inteira, nove homens. Era um homem valente e um combatente excepcional. O régulo, que era tenente, almoçava à minha mesa, e outras pessoas começaram a vir. Vivíamos razoavelmente, numa maneira de estar e de ser muito especial, com amizade, disciplina e respeito. E o irmão do régulo, o Mamadu, tornou-se meu guia. Numa ocasião, eu disse-lhe: «Precisamos de saber o que é que se passa porque nós circulamos, mas eles fogem e esquivam-se. Precisamos de trazer as populações, e dar-lhes segurança.» Fomos uma vez fazer uma patrulha à noite, ele ia ao meu lado, penso que levávamos só um pelotão. Era um pouco longe, na Guiné o terreno é mau, eram as bolanhas, os rios, o lodo. Deslocámo-nos para uma zona onde admitíamos que houvesse um acampamento do PAIGC. De facto havia, e à volta do acampamento havia uma zona de milho muito alto. Fomos durante a noite, mal se apercebia mas havia uma certa luminosidade porque era uma noite clara, e pensámos como é que aquilo ia ser. O Mamadu estava ao meu lado. Os guias acompanhavam-me muito porque diziam que eu tinha qualquer coisa e por isso podiam estar a meu lado porque não morriam. Várias vezes rebentaram granadas próximo de mim e não me aconteceu nada. Nessa noite, eu disse que precisávamos de apanhar alguém que pudesse dizer o que se estava a passar. Vimos uma sentinela que estava com vestes brancas, um mandinga, o que não era normal, portanto devia ser da população. O Mamadu disse-me: «Vamos agarrar aquele. Tenho impressão que ele está armado, não sei,» Disse a mais quatro ou cinco para nos acompanharem e depois veríamos o que é que iríamos fazer, porque a população não era nada fácil. Tanto não foi fácil que, quando estávamos a um metro dele, a sentinela disparou. Não me apanhou a mim, mas apanhou o guia no peito. O Mamadu morreu de imediato. A certa altura, no meio do milho aquilo começou a ser muito complicado. Havia um soldado alentejano, muito pequenino, que dizia para os outros: «Envergonhem-se. Está aqui o nosso capitão, com tiros por todos os lados, e não vem cá ninguém. » A partir daí as granadas para aquele lado não pararam.
Eu tinha na minha companhia à volta de trinta analfabetos. E fizeram a 4.' classe. Lembro-me que um dos soldados mostrou-me uma carta, que alguém escrevera pelos pais dele, que não acreditavam que a carta que ele mandara fosse escrita por ele. Quando os soldados vinham das patrulhas, tinham sempre qualquer coisa a fazer. Primeiro aprenderam a ler, os que não sabiam, e criámos um aldeamento. Eu cheguei a ter sob a minha responsabilidade uma população de cerca de mil pessoas. Ou seja, os primeiros seis meses foram de luta intensa e de combate, e depois passou-se a tratar da população. Mas isso era uma primeira fase porque a guerra não é a guerra pela guerra, porque tinha de haver uma outra finalidade: a de criar condições para o desenvolvimento das populações. O nosso orgulho de capitães era termos populações e podermos apoiá-las; não era termos mais mortos ou menos mortos, mais tiros ou menos tiros. O tempo não foi totalmente perdido para a juventude porque foi uma experiência humana e de chefia única, que eles assumiram com um sentido da responsabilidade às vezes demasiado pesado. Por isso, depois do aspecto militar estar mais ou menos resolvido, cheguei ao comandante de batalhão e disse-lhe: «A minha guerra terminou. Agora. ou vem população ou eu vou-me embora.» Depois houve umas cenas, o tenente-coronel Cavaleiro lá facilitou tudo, e eu fiz acções no Senegal para trazer as populações. E as populações começaram a regressar. Fizemos um aldeamento, cuja segurança era feita por eles próprios. Dei instrução de armamento aos elementos mais válidos da população. Distribuí-lhes armas e eles passaram a fazer a própria segurança. Faziam também as patrulhas connosco e, à noite, faziam a segurança da sua população.
Quando começaram as sementeiras do arroz, as mulheres vinham a entoar aqueles cânticos, ao pôr do Sol, que são coisas que não podemos esquecer, e a segurança era dada pelos tipos da própria tabanca. Eu fiz uma cerimónia quando eles passaram a ser seguranças de parte inteira. Tudo isto era ilegal mas o capitão podia fazer tudo: em vez de içar a bandeira todos os dias, eu só a içava ao fim-de-semana porque era eu, ou o oficial mais antigo, que transportava a bandeira e que recolhia a bandeira. Então, fiz a cerimónia a essa milícia e eles foram ao içar da bandeira. Eu era não só responsável pelos meus soldados, mas também pela população, desde a agricultura às escolas, à enfermaria, etc. Isto levou-nos a alimentar uma certa mística porque nos sentíamos úteis, era possível estarmos com as populações, sentirmos que elas dependiam um pouco de nós. Foi isto que fez sobreviver a nossa tropa durante aqueles anos todos de guerra. Como capitão, eu tinha de ver se o arroz chegava, tive de arranjar sementes para eles plantarem a mancarra, tive de gerir a população. Também tive alguns conflitos de população que foram resolvidos. Uma vez eu disse ao régulo: «Precisamos de fazer uma pista porque um dia podemos precisar que um avião venha aqui. Tem que se pedir à população, porque eu não tenho dinheiro para dar.» E o régulo, com a sua sabedoria, disse-me: «Senhor capitão, o senhor não pede. Os senhores, certamente, um dia vão-se embora mas o campo fica cá, e nós precisamos também do campo. Nós estaremos a trabalhar para nós. » Assim como esse régulo me disse, quando morreu o irmão, o que me abalou bastante na ocasião: «Capitão, não estejas triste porque o meu irmão morreu pela Pátria. Eu prefiro que tenha morrido desta maneira, a morrer de uma outra maneira. Não estejas triste.» Isto eram momentos especiais, como os passados debaixo da árvore, a mangueira, a conversar com o padre mandinga.
Para quem quisesse, o tempo podia ser extraordinariamente bem ocupado na convivência com eles, à maneira deles, respeitando-os. De tal forma que toda a gente vinha ao içar da bandeira, ao domingo de manhã, ficando depois os «homens grandes» - os mais velhos - a conversar comigo debaixo de uma árvore, sentados, durante umas duas ou três horas. Ali debatíamos os problemas da aldeia, o que é que havia a fazer, etc. Fui convidado para algumas cerimónias religiosas mais íntimas deles. Só soube depois de sair de lá que aquilo se tinha tornado um costume, e que os «homens grandes» queriam conversar com o capitão sempre debaixo daquela árvore. Como eu vivi numa aldeia quase comunitária em Trás-os-Montes, isso ajudou-me muito. Nessa companhia, ninguém sabia fazer pão, fui eu que ensinei a fazer pão porque me lembrava da minha mãe a fazê-lo. Das primeiras vezes aquilo era uma coisa horrível, mas depois começou a sair bem. Foi o Valente de Oliveira, o ministro, que era alferes de Engenharia, que nos levou os primeiros tijolos para nós fazermos um forno. Depois, os soldados que vinham, traziam sementes para fazermos a primeira horta. A minha satisfação foi quando eles venderam a primeira produção de mancarra. Então, houve dinheiro em quantidade para aquela gente, houve arroz, houve tudo. Depois, como eu fui para o curso de Estado-Maior, tive de deixar a companhia. E quando eu estava a içar pela última vez a bandeira, irrompeu um coro de cinquenta ou sessenta miúdos, que estavam na escola, e dos quais os meus furriéis eram professores, a cantar o hino nacional. São momentos inesquecíveis. Uma vez, fizemos uma «ferra». Eu tive uma manada imensa de vacas. Fui duas vezes buscar vacas a uma zona que não era minha mas a que ninguém ia, o Óio. Depois, fizemos a «ferra», marcando o gado. Outra vez, demorámos quase uma manhã inteira a segurar o navio do comandante Baptista Lopes, que estava no rio Cacheu, porque quando a maré estava a encher a água subia de tal maneira que podia voltar os navios. Ele queria-nos passar um filme porque há seis meses que não víamos nada, completamente fora da civilização. Trouxe-nos um filme com uma grande surpresa e queria que nós víssemos aquilo. Mas tinha que ser à noite e a luz tinha que vir do navio. Andámos quase um dia inteiro a tentar segurar o navio para que se mantivesse na mesma posição, porque senão virava-se, e lá ia o fio. E conseguimos ver o filme. No meio daquilo, procurávamos viver o melhor possível: tínhamos os locais de pesca assinalados com umas setas junto ao rio; tínhamos o Largo da Tomada da Pastilha, que era onde estava a enfermaria.
Também na Guiné fui ferido em combate, com uma granada de morteiro que rebentou por cima da árvore, debaixo da qual eu estava. Levei com um estilhaço, senti qualquer coisa, e só vi no ombro um esguicho de sangue. E vejo o alferes Santos a pôr a mão em cima daquilo, a querer parar o esguicho, com a mão toda suja de terra. Houve uma emboscada a seguir e meteram-me num jipe de onde eu ia dando ordens. Foi mais um momento excepcional do meu pessoal. Quando saímos da emboscada, chegou um helicóptero que me evacuou para Bissau. A noite, estava eu no hospital, ligado, e aparece o general Shultz, que era o governador. Eu estava com um prato de bacalhau com batatas à minha frente, ele entrou naquele momento e disse-me: «Eu a pensar que estavas a morrer, e estás a comer bacalhau com batatas!» Ainda tenho o estilhaço. Depois, pedi para sair do hospital porque iam mandar a minha companhia para uma zona difícil, fora da zona da companhia, para o Óio, com outro comandante. Mesmo de braço ligado, apareci lá para fazer essa patrulha com a minha companhia, e tudo correu bem. Não se faz isto por valentia porque nós também tínhamos medo, mas eu tinha medo era que houvesse qualquer desastre com os meus soldados, sem eu estar presente. Eu nunca me perdoaria. Foi uma comissão onde houve o aspecto militar muito intenso mas onde o aspecto humano e das populações também foi muito intenso. Para mim o objectivo era dar condições às populações e a guerra só se justificava por isso. No final, valeu a pena, consegui. Claro que a vida também era dura. No início eu fazia patrulhas de 30-40 quilómetros, com uma certa capacidade de resistência, mas no final da comissão, quando fazíamos 12 quilómetros já era complicado. Tínhamos menos de 30 anos e já estávamos esgotados.
Fui em 1972 para Angola, para o comando-chefe, com o general Luz Cunha, onde me dei muito bem. Com as funções que eu tinha, percorri quase toda a Angola. Aí. a guerrilha deixou de ter razão de ser porque houve um desenvolvimento económico imparável. Angola era grande, as pessoas eram muito capazes. Esta comissão, de 1972 a 1974, foi uma comissão mais calma mais serena, de satisfação plena. Angola tinha crescido, havia liceus por todo o lado, estavam lá as mulheres dos militares, quadros permanentes e milicianos, as pessoas iam daqui com o espírito de ajudar o próprio angolano, sem qualquer interesse colonialista. No 25 de Abril eu sabia o que é que se estava a passar, porque o meu telefone era usado para os telefonemas para Lisboa No dia em que saiu o chefe de estado-maior do comando-chefe chegaram alguns daqueles que fizeras parte da revolução do 25 de Abril O aeroporto tinha uma zona militar e uma zona civil. Muitos dos oficiais foram a correr para a parte civil porque o avião trazia a equipa que vinha de Lisboa e que tinha feito a revolução. Assisti então a muito oportunismo. 1)





1 ) - Testemunho oral: Alípio Tomé Pinto. Lisboa. 3 de Abril de 1995. General do Exército, nasceu em 1936. Serviu em Angola (1961-1963 e 1972­-1974) e na Guiné (1964-1965). Chefe de Estado-Maior da Madeira (1970-1971). Estava no activo e sem qualquer missão militar atribuída quando foi entrevistado









BIBLIOGRAFIA



José Freire Antunes – A Guerra de África (1961-1974) - Circulo dos Leitores – Vol. I e II

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