Sábado, 7 de Março de 2009
“Há gente que não recebe há 48 meses”
A degradação das condições de vida na Guiné-Bissau está a criar um "matriarcado". Os homens não recebem e as mulheres lançam-se em pequenos negócios para sustentar a família
A degradação das condições de vida na Guiné-Bissau está a promover uma espécie de ‘matriarcado’ em muitas famílias guineenses, com um aumento exponencial do número de mulheres que são o verdadeiro sustento das suas famílias, respondendo com variadíssimas iniciativas de negócios à total ausência de salários em muitos lares. "Há funcionários que não recebem há mais de 48 meses", assegurou ao CM César, de 27 anos, recepcionista numa unidade hoteleira.
Mesmo assim, César considera-se um dos felizardos com o seu salário, de 50 mil francos CFA (cerca de 76 euros), apesar de reconhecer que é muito baixo para fazer face ao custo de vida. De facto, 36 euros é o salário de quase todos os trabalhadores na Guiné, pelo menos no sector privado, porque na Função Pública muitos não passam dos 60 euros. Pagar 3,50 euros por um quilo de carne ou 1,50 euros por um quilo de peixe de primeira seria uma pechincha em alguns países da Europa mas não para quem ganha tão pouco, ou mesmo nada. "O maior problema é não nos pagarem", reforça César, que aprecia, no entanto, o trabalho que está a ser desenvolvido pelo novo governo.
"Antes, o arroz (base alimentar dos guineenses) chegava a custar 38 euros mas hoje pode comprar-se um saco de 50 quilos por apenas 12 euros", elogiou.
É também a este governo que se deve o aumento do salário dos ministros, que passou, sublinhe-se, de 500 para perto de mil euros, enquanto os ordenados dos directores-gerais passaram de 100 para 400 euros. Fora as regalias, que vão da atribuição de casas do Estado, normalmente vivendas, a ‘grandes carrões’, na sua maioria jipes, para fazer face às estradas esburacadas.
Quem for proprietário de uma boa casa na capital, Bissau, pode sempre arrendá-la às inúmeras instituições estrangeiras e funcionários dos projectos das Nações Unidas, que aqui ‘acamparam’. Os preços variam entre 500 e 1500 euros, fazendo toda a diferença entre privilegiados e desfavorecidos: quem ganha 76 euros tem à sua espera casas a 7500 CFA (11 euros), sem condições mínimas, isto é, sem electricidade.
É também a este governo que se deve o aumento do salário dos ministros, que passou, sublinhe-se, de 500 para perto de mil euros, enquanto os ordenados dos directores-gerais passaram de 100 para 400 euros. Fora as regalias, que vão da atribuição de casas do Estado, normalmente vivendas, a ‘grandes carrões’, na sua maioria jipes, para fazer face às estradas esburacadas.
Quem for proprietário de uma boa casa na capital, Bissau, pode sempre arrendá-la às inúmeras instituições estrangeiras e funcionários dos projectos das Nações Unidas, que aqui ‘acamparam’. Os preços variam entre 500 e 1500 euros, fazendo toda a diferença entre privilegiados e desfavorecidos: quem ganha 76 euros tem à sua espera casas a 7500 CFA (11 euros), sem condições mínimas, isto é, sem electricidade.
"A ONU É QUE DEVIA INVESTIGAR"
Uma semana após o duplo assassínio, de Nino Vieira e Tagmé Na Waié, as circunstâncias em que se deram as mortes continuam na boca do povo mas o medo de represálias impede que o façam abertamente. O jornalista António Aly Silva é um dos poucos que se atrevem a fazê-lo. "O que se passou é intolerável e não pode continuar. Estes acontecimentos ultrapassam o nosso próprio Estado, observou, apontando soluções: "A questão devia ser tomada pela ONU, abrir-se um inquérito internacional e criarmos uma comissão de reconciliação, como aconteceu na África do Sul."
CRENÇA POPULAR ADIA FUNERAL DE CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS
Crenças populares estão na origem do adiamento do funeral de Tagmé Na Waié, que estava marcado para esta manhã mas só terá lugar no domingo. Na etnia balanta, à qual pertence o ex-chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, acredita-se que fazer um funeral num sábado traz consigo outra desgraça, pelo que a família de Tagmé Na Waié pediu às autoridades que a cerimónia fúnebre fosse adiada por 24 horas.
Em Bissau, vive-se uma calma tensa e os enterros de Nino Vieira e Tagmé Na Waié estão a ser vistos como uma espécie de barómetro para perceber melhor a correlação de forças após a morte dos homens que, na prática, detinham o controlo da vida dos guineenses. Se no funeral do ex-chefe militar não se espera grande bulício, a expectativa é maior em relação a terça--feira, data do enterro de Nino Vieira, que pode vir a ser novamente adiado, segundo apurou o CM. Tudo porque Isabel Romano Vieira, viúva do ex-presidente, não se conforma em ver o marido enterrado no Cemitério Municipal de Bissau, como se fosse ‘um vulgar cidadão’. "Ela tem razão. O Nino é um presidente e reconhecido como herói da luta de libertação", defendeu, em declarações ao CM, um apoiante da ex-primeira-dama.
Acrescente-se que os filhos de Nino Vieira, a residir em Portugal, tinham prevista a chegada a Bissau nesta madrugada e espera-se que possam convencer a madrasta a aceitar que a cerimónia fúnebre se realize conforme o previsto.
Crenças populares estão na origem do adiamento do funeral de Tagmé Na Waié, que estava marcado para esta manhã mas só terá lugar no domingo. Na etnia balanta, à qual pertence o ex-chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, acredita-se que fazer um funeral num sábado traz consigo outra desgraça, pelo que a família de Tagmé Na Waié pediu às autoridades que a cerimónia fúnebre fosse adiada por 24 horas.
Em Bissau, vive-se uma calma tensa e os enterros de Nino Vieira e Tagmé Na Waié estão a ser vistos como uma espécie de barómetro para perceber melhor a correlação de forças após a morte dos homens que, na prática, detinham o controlo da vida dos guineenses. Se no funeral do ex-chefe militar não se espera grande bulício, a expectativa é maior em relação a terça--feira, data do enterro de Nino Vieira, que pode vir a ser novamente adiado, segundo apurou o CM. Tudo porque Isabel Romano Vieira, viúva do ex-presidente, não se conforma em ver o marido enterrado no Cemitério Municipal de Bissau, como se fosse ‘um vulgar cidadão’. "Ela tem razão. O Nino é um presidente e reconhecido como herói da luta de libertação", defendeu, em declarações ao CM, um apoiante da ex-primeira-dama.
Acrescente-se que os filhos de Nino Vieira, a residir em Portugal, tinham prevista a chegada a Bissau nesta madrugada e espera-se que possam convencer a madrasta a aceitar que a cerimónia fúnebre se realize conforme o previsto.
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