Depois da agressão a Francisco Fadul
CEDEAO condena militares da Guiné-Bissau por actos de violência no país
A Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) manifestou hoje preocupação pelos “crescentes actos perturbantes de falta de lei e de violação dos direitos humanos que estão a permear toda a orgânica política da Guiné-Bissau”
.Aquela instância condenou os elementos das Forças Armadas que no dia 23 de Março detiveram o advogado Pedro Infanda, por comentários que ele fizera em conferência de imprensa, ao falar como representante de um antigo Chefe do Estado-Maior da Armada, José Américo Bubo Na Tchuto, que se encontra refugiado na Gâmbia. E particularmente o facto de ele ter sido espancado na cadeia.
Uma semana mais tarde, recorda a CEDEAO, homens armados e vestidos como militares atacaram o presidente do Tribunal de Contas, o antigo primeiro-ministro Francisco José Fadul, que depois de alguns dias no Hospital Central Simão Mendes acabou por ser transferido para um estabelecimento hospitalar da capital portuguesa.
A entidade representativa do conjunto de estados da África Ocidental entende que estes factos, um mês depois do assassínio do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Tagme Na Waie, e do Presidente João Bernardo (Nino) Vieira representa “um padrão perturbante de crescente impunidade e de completa falta de consideração das forças de segurança pela dignidade dos cidadãos”.
A CEDEAO afirma que, numa altura em que ela e toda a comunidade internacional trabalham no sentido de ajudar a Guiné-Bissau a estabilizar a situação política, financeira e de segurança, os últimos acontecimentos demonstram uma flagrante “falta de patriotismo” e ausência de preocupação com os sofrimentos da população. O conjunto de 15 países da África Ocidental recorda ao Governo de Carlos Gomes Júnior e às forças de segurança guineenses toda a sua responsabilidade em manter o primado da lei e a necessidade de garantir que a impunidade não irá continuar.
"Deriva para a ditadura"
Duas dezenas de partidos da oposição guineense denunciaram na semana passada uma “perigosa deriva do Estado de direito democrático” e de “situações que deixam vislumbrar a instauração de uma ditadura”, com ameaças feitas aos políticos que expressem livremente as suas opiniões. Em comunicado de imprensa, 21 partidos exigiram a demissão do Governo chefiado pelo líder do PAIGC, que acusam de ser incapaz de conduzir devidamente os destinos do país.
Segundo a generalidade da oposição, os acontecimentos recentes “em nada abonam para a credibilidade e boa imagem” da Guiné-Bissau, onde foram marcadas eleições presidenciais para 28 de Junho, com eventual segunda volta em finais de Julho, em plena época das chuvas.
O ex-Presidente interino Henrique Rosa, que assegurou a chefia interina do Estado de 2003 a 2005, manifestou-se disponível para uma candidatura, mas alguns observadores admitem que possa ter dificuldades por ser filho de português e alguns nacionalistas entenderem que só podem concorrer os guineenses cujos avós já tenham nascido em solo nacional. Os “fidjos de tchon” ou “pretu nok”; e não os “burmedjus”, ou mestiços.
Quem já anda a recolher assinaturas é outro antigo Presidente interino, Malan Bacai Sanhá, muçulmano de etnia beafada, enquanto Carlos Gomes Júnior se manifesta disposto a avalizar uma candidatura de Raimundo Pereira, segundo vice-presidente do PAIGC e que, como presidente da Assembleia Nacional Popular, está a assegurar interinamente a chefia do Estado. Carlos Gomes Júnior tinha chegado a admitir candidatar-se ele próprio.
Entretanto, interrogado pelo PÚBLICO sobre a acusação feito pelos oposicionistas de que se estaria a deslizar para uma ditadura, o analista político guinense Inácio Valentim, que em Madrid está a fazer um doutoramento em Ciências Políticas, considerou que “o país se encontra no seu estado natural de violência constante". Da Guiné-Bissau “não se pode esperar nada enquanto o problema étnico-militar não for solucionado", acrescentou.
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