Sistema de saúde guineense no limiar da sobrevivência
Mussá está no limiar da vida, como um quarto das crianças guineenses, que morre antes dos cinco anos. Precisa de um medicamento para a respiração frágil dos seus 12 meses, que o hospital não tem e que a mãe não pode comprar
Esta é uma história banal na Guiné-Bissau, onde cerca de um quarto das crianças morre antes dos cinco anos, mais de dois terços da população vive abaixo do limiar da pobreza e os cuidados de saúde são sempre pagos pelos utentes. O seu funcionamento depende em 90 por cento das ajudas externas e parcerias que são, porém, vocacionadas para programas específicos, explica a directora-geral da saúde (DGS), Marilene Menezes de Alva.
A mãe embala Mussá frente ao médico, que lhe diagnostica a doença só com a experiência dos anos: no Hospital Nacional Simão Mendes de Bissau, o maior do país, falta tudo e os meios de diagnóstico são quase inexistentes. À mãe resta-lhe correr contra tudo: correr até à aldeia onde vive, correr a mostrar a receita ao pai e correr a vender uma cabra para arranjar dinheiro. Só depois virão os medicamentos.
A mãe ainda conseguiu levar Mussá a um hospital, encontrar um médico e pagar a consulta. Mas nem sempre é assim.
Na sequência da guerra civil de 1998, muitas instalações de saúde foram arrasadas, depois seguiu-se o abandono do sistema por parte dos profissionais, sem condições para trabalhar. Faltam equipamentos, os salários têm meses de atraso e não existe uma carreira profissional.
Além do Simão Mendes, há quatro hospitais regionais, 114 centros de saúde e, em alguns lugares, postos de saúde comunitários para curativos e outros cuidados simples. “O nosso sistema de saúde está muito bem desenhado, mas temos uma extrema carência de meios e profissionais”, explica a DGS.
O resultado são centros de saúde fechados porque não existe sequer um enfermeiro e unidades de hospitais encerradas por falta médicos e técnicos. A isto soma-se a degradação visível da maioria das instalações.
No total, há cerca de 140 médicos na Guiné-Bissau, para uma população de 1,6 milhões, e o número de especialistas é residual. Não existem, por exemplo, pediatras e há apenas três ginecologistas-obstretas e um único técnico de neonatologia. Chama-se Luis Kamal e segue os cerca de 500 prematuros que nascem anualmente no Simão Mendes, além dos que chegam do resto do país.
“Em alguns hospitais até há incubadoras mas não funcionam porque não há mais nenhum técnico, mas também porque nem sempre há electricidade”, explica. Na Guiné-Bissau não existe um sistema de fornecimento de electricidade e água.
Os médicos guineenses formaram-se tradicionalmente em países com os quais foram estabelecidos acordos nesse sentido. Na sequência da guerra de 1998 muitos protocolos foram suspensos e médicos em formação não regressaram. Só em Portugal há mais de 200 médicos guineenses.
“A política agora é a formação local e recuperar a cooperação com alguns países. O nosso objectivo é cobrir pelo menos 20 a 30 por cento das necessidades de recursos humanos das nossas unidades”, segundo Marilene de Menezes.
A Escola Nacional de Saúde de Bissau tem a missão de formar técnicos de saúde de todas áreas, mas depois de o anterior edifício ter ficado destruído na guerra de 1998 e de ter sido necessário arranjar novas instalações, hoje só há dois cursos a funcionar: enfermagem e técnicas de laboratório. As turmas deste último estão a poucos dias de terminar o curso e, segundo a responsável pela instituição, “não se sabe se haverá um novo”, porque ainda não há financiador.
O Governo já anunciou a intenção de reestruturar a escola e a direcção prepara-se para elaborar novos currículos e rever os actuais.
“Todos os hospitais do país têm problemas sérios”, resume o director do Simão Mendes, Fernando Cabral, enquanto a mãe de Mussá o vai embalando ali ao lado, sentada no chão da pediatria.
“Mas apesar das dificuldades, conseguimos fazer coisas como na Europa”, garante.
A mãe embala Mussá frente ao médico, que lhe diagnostica a doença só com a experiência dos anos: no Hospital Nacional Simão Mendes de Bissau, o maior do país, falta tudo e os meios de diagnóstico são quase inexistentes. À mãe resta-lhe correr contra tudo: correr até à aldeia onde vive, correr a mostrar a receita ao pai e correr a vender uma cabra para arranjar dinheiro. Só depois virão os medicamentos.
A mãe ainda conseguiu levar Mussá a um hospital, encontrar um médico e pagar a consulta. Mas nem sempre é assim.
Na sequência da guerra civil de 1998, muitas instalações de saúde foram arrasadas, depois seguiu-se o abandono do sistema por parte dos profissionais, sem condições para trabalhar. Faltam equipamentos, os salários têm meses de atraso e não existe uma carreira profissional.
Além do Simão Mendes, há quatro hospitais regionais, 114 centros de saúde e, em alguns lugares, postos de saúde comunitários para curativos e outros cuidados simples. “O nosso sistema de saúde está muito bem desenhado, mas temos uma extrema carência de meios e profissionais”, explica a DGS.
O resultado são centros de saúde fechados porque não existe sequer um enfermeiro e unidades de hospitais encerradas por falta médicos e técnicos. A isto soma-se a degradação visível da maioria das instalações.
No total, há cerca de 140 médicos na Guiné-Bissau, para uma população de 1,6 milhões, e o número de especialistas é residual. Não existem, por exemplo, pediatras e há apenas três ginecologistas-obstretas e um único técnico de neonatologia. Chama-se Luis Kamal e segue os cerca de 500 prematuros que nascem anualmente no Simão Mendes, além dos que chegam do resto do país.
“Em alguns hospitais até há incubadoras mas não funcionam porque não há mais nenhum técnico, mas também porque nem sempre há electricidade”, explica. Na Guiné-Bissau não existe um sistema de fornecimento de electricidade e água.
Os médicos guineenses formaram-se tradicionalmente em países com os quais foram estabelecidos acordos nesse sentido. Na sequência da guerra de 1998 muitos protocolos foram suspensos e médicos em formação não regressaram. Só em Portugal há mais de 200 médicos guineenses.
“A política agora é a formação local e recuperar a cooperação com alguns países. O nosso objectivo é cobrir pelo menos 20 a 30 por cento das necessidades de recursos humanos das nossas unidades”, segundo Marilene de Menezes.
A Escola Nacional de Saúde de Bissau tem a missão de formar técnicos de saúde de todas áreas, mas depois de o anterior edifício ter ficado destruído na guerra de 1998 e de ter sido necessário arranjar novas instalações, hoje só há dois cursos a funcionar: enfermagem e técnicas de laboratório. As turmas deste último estão a poucos dias de terminar o curso e, segundo a responsável pela instituição, “não se sabe se haverá um novo”, porque ainda não há financiador.
O Governo já anunciou a intenção de reestruturar a escola e a direcção prepara-se para elaborar novos currículos e rever os actuais.
“Todos os hospitais do país têm problemas sérios”, resume o director do Simão Mendes, Fernando Cabral, enquanto a mãe de Mussá o vai embalando ali ao lado, sentada no chão da pediatria.
“Mas apesar das dificuldades, conseguimos fazer coisas como na Europa”, garante.
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